UCRÂNIA: UM INVERNO SEM FIM

Vai iniciar-se mais um inverno sem que o conflito da Ucrânia se resolva.
E isso é muito grave.
Já o disse em anos anteriores, e errei sempre, convencido de que o bom senso acabaria por prevalecer que a guerra estava prestes a terminar.
Mas prevaleceu!
Ano após ano, entramos nesta estação dura com a mesma sensação de impotência, com a mesma falta de respostas e com a mesma ausência de liderança política que pudesse colocar um ponto final numa tragédia que arrasta milhões de vidas para a incerteza e para o sofrimento.
A cada inverno, a situação piora drasticamente.
Para o povo ucraniano, é evidente: casas destruídas, cidades desertas, famílias separadas e uma constante luta pela sobrevivência.
Para a economia europeia, o impacto é devastador: inflação descontrolada, energia cara, dependência de soluções improvisadas que nunca resolvem nada.
Para o povo russo, as sanções que pouco mudam a realidade política mas degradam o quotidiano.
Para o mundo, uma guerra que se arrasta sem lógica, sem horizonte e sem vontade real de ser resolvida.
Já não há reservas. Já não há sustentação. Já não há economia que aguente este conflito ridículo que caminha para o seu quarto ano.
Uma guerra que poderia ter sido evitada, travada ou negociada em semanas, prolonga-se por inércia, teimosia e falta de coragem política.
O preço é pago pelos povos e nunca pelos líderes que se entretêm com discursos vazios.
A União Europeia, que se quis afirmar como bastião da paz, não conseguiu em quatro anos o que devia ter feito em semanas. Falhou na diplomacia, falhou na mediação, falhou na proteção dos seus próprios cidadãos. Enredada em burocracias, em reuniões infindáveis e em divisões internas, deixou a guerra escalar.
E agora assiste, impotente, ao desastre que ajudou a alimentar.
Nota-se uma escalada de intransigência, teimosia e ignorância. Como se a política internacional fosse um jogo de vaidades e não a gestão da vida de milhões.
A sensação é que, em nome de princípios vagos, se sacrificam realidades concretas.
E a verdade é que esta postura já quase roça o autoritarismo de quem se recusa a admitir o erro.
Todos temos as nossas opiniões, mas todos temos de enfrentar os factos.
A Ucrânia, mesmo com milhares de milhões gastos em apoios militares, não consegue vencer a Rússia. Muito antes pelo contrário. Tem sofrido derrotas sucessivas, recuos estratégicos que já não convencem ninguém e uma sangria humana que não tem fim à vista.
O sistema ucraniano está minado por incompetência e corrupção. Isto não é segredo. É uma realidade que mina qualquer esforço de reconstrução, qualquer tentativa de transparência, qualquer ilusão de que este Estado pode sustentar uma guerra prolongada.
Por muito que custe, este é um facto que os apoiantes mais fervorosos não querem admitir.
Do outro lado, o regime russo não mostra sinais de debilidade. Apesar das sanções, da pressão internacional e do isolamento, Moscovo mantém firmeza. O Estado russo soube reorganizar a sua economia, explorar novas parcerias e jogar com a dependência energética do Ocidente. O efeito das sanções é residual. A retórica de que a Rússia iria colapsar foi apenas mais uma ilusão vendida a um público cansado e enganado.
A administração americana, por sua vez, já nem esconde. Disse-o, assumiu-o: este conflito é um bom negócio. Negócio para as indústrias de armamento, para os lobbies energéticos, para a banca.
Enquanto a Europa paga a fatura da guerra, os EUA reforçam a sua posição estratégica e alimentam uma economia paralela que vive da destruição.
E a União Europeia? Nada faz. Presa em discursos repetidos, em cimeiras sem resultados, em apelos que já ninguém leva a sério. A Europa tornou-se um espectador passivo da sua própria decadência. Uma entidade que não consegue proteger os seus povos, nem influenciar verdadeiramente o curso de uma guerra que decorre no seu quintal.
Enquanto isso, a economia mundial degrada-se. O crescimento desacelera, a inflação corrói salários, os mais pobres sofrem ainda mais.
E, no meio do caos, enriquecem os grandes lobbies: o armamento, o petróleo, a banca.
É um padrão repetido ao longo da história: quando há guerra, poucos enriquecem, muitos perdem tudo.
E o povo ucraniano? Vai enfrentar um novo inverno sem perspetiva de paz.
Milhares vão passar fome, frio e doença. Muitos não resistirão. Famílias inteiras verão as suas esperanças soterradas pelo gelo, pela falta de eletricidade, pela ausência de segurança. É uma tragédia humana de proporções imensas, mas cada vez mais invisível.
O dever dos políticos é defender o povo. Esse deve ser o princípio de qualquer liderança.
Mas o que vemos é o contrário: líderes que protegem os seus lugares, os seus discursos e as suas alianças, em vez de proteger vidas.
Falta-lhes coragem para admitir que perderam, que erraram, que substimaram o inimigo.
Há mais nobreza na rendição do que na teimosia de uma vitória utópica.
Esta frase pode chocar, mas é verdadeira.
Persistir numa guerra que não pode ser vencida não é sinal de coragem, é sinal de cegueira. E a cegueira política custa vidas, custa gerações inteiras.
Muitos dirão que a rendição é inaceitável, que seria uma traição.
Mas o que é mais traição: salvar vidas ou prolongar a morte?
O que é mais digno: reconhecer a derrota ou insistir numa mentira?
As perguntas são duras, mas precisam de ser feitas.
A Ucrânia, tal como está, não pode vencer.
A Rússia, tal como está, não vai ceder.
O impasse é claro.
E quanto mais tempo este impasse durar, mais sangue será derramado. A solução nunca virá das armas. Só pode vir da política, da diplomacia, da aceitação da realidade.
Mas quem terá coragem de dizê-lo em voz alta?
Quem terá coragem de enfrentar as consequências políticas de admitir a verdade?
Até agora, ninguém!
Até agora, apenas discursos feitos para agradar a plateias, sem consequências reais.
E assim caminhamos para mais um inverno, como se nada fosse. Como se o sofrimento humano fosse apenas uma nota de rodapé. Como se a fome, o frio e a morte fossem apenas estatísticas de relatórios internacionais.
Os povos, esses, percebem. Sentem no bolso, na pele, no dia a dia. Percebem que estão a ser usados, manipulados, enganados.
Mas não têm voz suficiente para mudar o curso da história. Vivem presos a decisões que nunca tomaram.
Se houvesse liderança verdadeira, o conflito já teria terminado.
Bastaria coragem política, vontade de negociar, capacidade de ceder.
Mas falta isso tudo. E enquanto falta, sobra dor.
A história julgará esta geração de líderes pela incapacidade de agir. Pela falta de visão. Pela covardia disfarçada de bravura.
Não é preciso esperar décadas para o ver: já está à vista de todos.
Quantas mais vidas precisam ser destruídas para que alguém diga basta?
Quantos mais invernos têm de passar para que a lição seja aprendida?
O mundo já não aguenta mais esta guerra absurda.
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