TRUMP: O REI SOL
Menos de um mês depois da impressionante e esmagadora eleição de Donald Trump para o cargo de presidente dos Estados Unidos da América, o gabinete governamental da sua nova administração está "fechado".
Como sempre, Trump foi rápido e eficaz, não deixando grande tempo ou "espaço" para especulações, "jogos de bastidores", "tabus" ou para os comentadores divagarem, horas a fio, nos canais de televisão ou redes sociais, tentando (e, por vezes, conseguindo) influenciar a decisão e criar cisões internas e externas.
Nas nomeações, houve algumas surpresas e algumas confirmações.
Não vamos analisar, uma a uma, essas nomeações, o que já foi feito por quase todos os órgãos de comunicação social.
Vamos, antes, tentar uma visão mais abrangente e global destas nomeações, procurando estabelecer padrões e constantes, ou seja, responder à questão: quais foram os principais critérios de "seleção" de Trump para o seu gabinete?
Estas escolhas eram, de facto, para Trump, algo fundamental e central.
Não nos podemos esquecer de que, na última administração, Donald Trump teve vários e grandes "amargos de boca" com os membros que escolheu para o seu gabinete (vice-presidente incluído). Escolheu o seu gabinete pelas ideias, pelas "posições" e, em alguns casos, pela influência no "aparelho" do partido. Afinal, tinha acabado de sair de uma eleição disputadíssima com Hillary Clinton: conquistou o Colégio Eleitoral, mas não a maioria da população, e havia vozes discordantes dentro do partido.
Agora, não!
Trump venceu em todas as frentes: venceu o Colégio Eleitoral, o voto popular e deu, de bandeja, aos republicanos, o Senado, o Congresso, a maioria dos governos estaduais assim como o Supremo Tribunal (que já detinha), ou seja, a totalidade das instituições governamentais norte-americanas.
Assim, tem o país e o partido "na mão". Literalmente, pode fazer o que quiser, como quiser, quando quiser.
E Trump aprendeu muito com a sua última administração (e Trump aprende rápido e bem).
Agora sabe que partilhar as mesmas ideias não significa pensar nos mesmos métodos, e partilhar a mesma ideologia não significa apoiá-lo ou, muito menos, ser-lhe leal.
Outra coisa que Trump aprendeu é que é uma má ideia rodear-se de pessoas com aspirações de ascensão ou ambições políticas, pois estão sempre à espera do erro do "Alfa" para lhe ocupar o lugar.
Foram lições que Donald Trump aprendeu e não vai repetir.
Porque as demissões têm um grande impacto na imagem de Trump.
Em todo o mundo, em todas as administrações e governos, as demissões são sempre traumáticas, nas de Trump são-no ainda mais.
Porquê?
Porque Donald é extremo em tudo: no insulto e no elogio, no promover e no despromover.
Quando nomeia alguém, eleva-o ao estatuto de exceção, de génio, de suprassumo, quase de messias salvífico que vai resolver todos os problemas na sua área (como se tem visto nos últimos tempos, por exemplo com Ellon Musk).
Por isso, quando Trump demite ou alguém se demite do seu gabinete, não é apenas uma demissão, mas um descrédito, uma "perda de face", quase uma declaração de incompetência, porque suprassumos não passam a medíocres de um dia para o outro.
Trump empenha a sua imagem, a sua reputação e o seu orgulho em cada nomeação que faz.
Cada saída é uma derrota pessoal.
Por isso, tem de ter tanto cuidado com elas. No último mandato, este fator desgastou-o tanto que não vai voltar a repetir os erros do passado.
Ao nomear o gabinete que começará a governar os Estados Unidos a 20 de janeiro, o futuro presidente não olhou a competências, consensos, vontades partidárias nem, tão-pouco, a idoneidades éticas ou legais (alguns membros do futuro gabinete estão sob investigação).
Então, quais foram os critérios de seleção?
Na minha modesta opinião, foram três.
O primeiro foi a lealdade.
Trump não olhou a ideais, opiniões ou tendências políticas e sociais.
Apenas lhe interessou quem, durante os últimos quatro anos e na campanha eleitoral para a presidência, se mostrou total e completamente fiel e leal, independentemente das ideias, opiniões, gafes e incoerências.
A nova administração não será de direita, não será republicana: será de Trump.
O "grande líder" rodeado dos seus súbditos, quase dos seus discípulos e crentes.
Outro fator que Trump considerou foi a gratidão.
Repare-se que nenhum membro do atual gabinete, numa análise imparcial e fria, seria, mesmo dentro do Partido Republicano, a primeira, segunda ou mesmo terceira escolha para o cargo que ocupa. Nenhum se destacou, de forma notória e marcante, quer política quer tecnicamente, para o cargo que irá ocupar (o Secretário da Defesa tem a patente militar de Major, isto é, está "a meio" da hierarquia militar como oficial).
Só detém o cargo porque Trump decidiu, quis e determinou.
Os nomeados devem-lhe a ele, e só a ele, a nomeação.
Sem o cargo, voltam ao quase anonimato onde estavam até ao momento, porque não têm "créditos" próprios para se destacar e obter sucesso no que quer que seja a não ser como governadores ou congressistas, isto é, na "pequena política" norte-americana.
Por último, Donald Trump "jogou" com a dependência.
Quase todos os membros da futura administração têm ou casos com a justiça, ou escândalos, ou questões polémicas. Tudo isso fica para "segundo plano" ou é mesmo suspenso (no caso de processos judiciais e investigações) com esta nomeação.
Trump fica, literalmente, com os nomeados "na mão", porque, se os demite, tudo volta a surgir, com a agravante de a pessoa estar "caída em desgraça", descredibilizada e com o pior inimigo que se pode ter nos Estados Unidos: o Presidente Trump!
Desta forma, os membros deste gabinete estão vinculados a Trump também pela dependência e, porque não dizê-lo, pelo medo.
Como dizia Nicolau de Maquiavel: "nada melhor do que o medo para submeter alguém ao nosso poder".
Também temos de ter consciência de que toda esta dependência e falta de mérito comprovado, conhecimento e experiência (quase nenhuns dos nomeados tem experiência em anteriores administrações, nem sequer de Trump) não afeta grandemente Donald Trump.
Todos sabemos que as administrações do "magnata de Nova Iorque" são "one-man show".
É ele que pensa tudo, decide tudo, manda em tudo.
Por isso, basta rodear-se de fiéis, de devotos, que concordem, sem reservas ou impedimentos, com ele, que o apoiem em todas (mas mesmo todas) as circunstâncias e que "deem a cara" pelas suas políticas e medidas.
É tudo quanto basta para que Trump esteja plenamente satisfeito com os membros do seu gabinete.
Prova-se, assim, que Trump aprendeu muito com a sua primeira administração.
E tal não se revela tão-somente nestas nomeações, mas em tudo.
Donald Trump está mais "inteligente", mais "racional", menos emotivo e impulsivo, mais calculista, astuto… mais político.
É com esta versão de "Trump 2.0", igual a si próprio, com as ideias de sempre, mas com métodos muito mais eficientes de as aplicar e com uma "trupe" muito mais devota a apoiá-lo, que teremos de lidar nos próximos quatro anos.
Não sei o que daqui pode resultar. Não sei se haverá mais malefícios do que benefícios, ou o inverso. Não sei se será uma presidência muito ou extremamente turbulenta.
Sei, tão-somente, uma coisa: o mundo tal como o conhecemos, dentro de quatro anos, não será o mesmo, e estaremos perante todo um novo contexto geopolítico global.
Isso posso garantir!
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