SAÚDE EM COLAPSO: A VERDADE QUE NINGUÉM QUER ENFRENTAR

07-11-2025

Há algo que todos evitamos admitir, mas é hora de enfrentar a realidade: o colapso dos sistemas nacionais de saúde na Europa não se deve apenas à má gestão ou à incompetência de quem os lidera.

Embora seja verdade que décadas de má administração, decisões políticas desastrosas e desfasadas da realidade tenham contribuído para o problema, há uma outra causa que raramente se discute – e ela está muito mais próxima de cada um de nós.

Sim, os sistemas de saúde gastam cada vez mais dinheiro. Mas, surpreendentemente, funcionam cada vez pior.

Há tempos de espera inaceitáveis, cidadãos a morrer em salas de espera e profissionais de saúde exaustos, com carreiras desvalorizadas no setor público.

No entanto, enquanto todos apontamos o dedo para os políticos, ignoramos um fator essencial: a postura e a mentalidade dos próprios cidadãos.

Recuemos no tempo, há 30 ou 40 anos. Naquela altura, se alguém tinha uma dor de cabeça, esperava que passasse. Uma dor de garganta? Resolução caseira. Esfolava-se os joelhos a brincar? Limpava-se e continuava-se.

Não era,, somente, por resistência ou falta de opções, mas porque havia uma maior noção de que nem todos os desconfortos exigem atenção médica.

Hoje, qualquer pequeno mal-estar é motivo para recorrer ao centro de saúde ou ao hospital. Qualquer dorzinha dispara o alarme. Chamam-se ambulâncias, envolvem-se equipas médicas, realizam-se exames desnecessários.

É como se tivéssemos desaprendido o que é normal no ciclo da vida: sentir-se desconfortável de vez em quando.

A verdade é que ninguém pode estar sempre "bem".

A frase tantas vezes repetida no campo da saúde – "uma pessoa saudável é apenas um doente por diagnosticar" – tem um fundo de verdade que ignoramos.

O corpo humano é extraordinário e resolve a maioria dos problemas por si só.

Cabe-nos aceitar algum desconforto e recorrer ao sistema de saúde apenas quando, de facto, é inevitável.

Esta é, sem dúvida, uma questão delicada, mas é impossível negar: a falta de resiliência dos cidadãos e o uso excessivo dos recursos de saúde estão a sobrecarregar o sistema.

É uma realidade incomportável e insustentável.

Não há dinheiro, profissionais, instalações ou equipamentos suficientes para responder a cada queixa menor que, na maioria das vezes, poderia ser resolvida com tempo e paciência.

A solução?

Educar a população para a saúde. Criar consciência de que os recursos são limitados e que devem ser utilizados apenas quando realmente necessário.

Ensinar que é normal e natural lidar com desconforto.

Afinal, estar "doente" ou sentir-se mal faz parte do percurso humano, e nem sempre há uma solução instantânea.

É um desafio monumental, mas possível. Sistemas de pré-triagem, informação acessível e educação para a saúde podem ser passos fundamentais.

A mentalidade coletiva precisa de mudar. Demorará anos, exigirá firmeza, exigência e, sim, algum desconforto emocional, mas é necessário.

Sem essa mudança cultural, continuaremos a sufocar os sistemas de saúde com casos que não deveriam sequer lá chegar.

É essencial que entendamos: cada recurso desnecessariamente utilizado é um recurso que falta para quem realmente dele precisa – e isso pode custar vidas.

Se quisermos garantir que os sistemas de saúde estão lá para nos proteger quando realmente precisarmos, temos de começar a protegê-los agora.

A mudança está em nós.

Seja mais resiliente.

Seja mais consciente.

O futuro do sistema de saúde depende disso.