Os sons eternos do eterno feminino
Numa época de globalizações, uniões e federalismos baseados na economia e no comércio, as culturas, as identidades e tradições dos povos são, todos os dias, postas em causa.
Quase que parece que é crime, na Europa da liberdade, cada um afirmar a sua nacionalidade, a sua cultura e o seu patriotismo.
Confunde-se (na minha opinião intencionalmente) inclusão com aglutinação, igualdade com nivelamento, liberdade com submissão. Como sempre quando se extrema algo atinge-se o seu oposto. Somos escravos da liberdade, só podemos dizer o que todos aceitam o que nos remete ao silêncio, só podemos pensar o que todos pensam o que nos conduz ao alheamento e conformismo, só podemos fazer o que todos aceitam o que nos conduz à inatividade e apatia. Afinal… só há um modo de agradar a todos: nada fazer. Queremos tanto o todo que destruímos a individualidade, esquecendo-nos da mais básica lei natural que o todo é constituído pelas suas partes e que a força vem da união da diversidade.
Um dado curioso é comparar o orçamento da União Europeia para as culturas nacionais e o orçamento para a "promoção do ideal europeu".
Acontece que a Europa não é (nem nunca foi) uma cultura, mas antes e apenas, um espaço geográfico imensamente multicultural (talvez o mais multicultural do mundo), onde, num pequeno espaço surgiram, evoluíram e se implementaram uma imensidão de povos, de culturas, de línguas, de tradições.
Lutar contra a massificação cultural europeia, contra a imposição de uma mentalidade europeísta una (que, de facto, não é europeia mas germânica), que, na realidade, não existe, promover a diversidade cultural, tradicional e étnica dos povos europeus é, hoje, algo de urgente, de imperioso e de obrigatório.
Do Minho e da Galiza aos Balcãs, da Provença à Celtica, da Andaluzia à Sicília, é preciso preservar a riqueza imensa de todas as tradições, todas as variações, todas as nuances de ser europeu.
Somos europeus não pela nossa unidade mas pela nossa capacidade de diversidade.
Um dia, talvez, os tecnocratas de Bruxelas e Estrasburgo entendam isso, embora, sinceramente, duvide, tendo em conta o seu nível cultural e capacidade cognitiva… mais fácil seria ensinar latim a um ornitorrinco!!!
Mas ainda há quem lute, quem se oponha, quem, contra tudo e todos, preserve as tradições mais profundas e antigas dos povos ancestrais da Europa.
Um desses casos é o grupo polaco Laboratorium Piesni que, com os seus cantares, preserva o património musical ancestral (algum com milénios) dos Balcãs, da Polónia, da Ucrânia, da Belorussia e da Geórgia. Tudo isso com uma imensa qualidade musical, um extremo bom gosto e um enorme profissionalismo (desde a qualidade das gravações à produção dos videoclips).
Para além de mais vinca outra tradição, essa sim das bases arquétipas ocidentais, da glorificação do "eterno feminino", da terra mãe, da "mátria", do "ventre comum da natureza em que tudo se resume e se encarna na Mulher enquanto Ser mítico e místico de onde tudo nasce, tudo provém e todos regressamos" (nas palavras de Mircea Eliade).
Com 5 álbuns editados, o último já este ano (2023), são um grupo diferente, uma sonoridade distinta mas que muito recomendo.
Os álbuns do grupo estão disponíveis no Spotify e no iTunes.
Deixo-vos, como exemplo, um dos meus cantares favoritos.
Eu, Celta, Minho-Galaico, Nortenho, Português, Ibérico, Latino e só depois, muito depois, Europeu (e só por razões geográficas).