OS SAPATOS DOS OUTROS e (alguns) comentadores televisivos portugueses
Uma coisa curiosa nos comentadores, muito em especial, nos comentadores portugueses, é que eles só sabem ver o mundo pelos seus olhos, pela sua circunstância, pelo seu curto mundo.
Ouço agora os comentadores a tecer opiniões sobre a morte de Isabel II.
Para eles tudo se dimensiona ao seu mundo, à sua opinião, à dimensão da sua cultura e do seu conhecimento (que não raras das vezes é pouco, muito pouco, curto, excessivamente curto).
Não há esforço algum para contextualizar, para conhecer, para se informarem.
Os ingleses não são os portugueses.
Por isso não pensam, não atuam, não se comportam, não se posicionam como os portugueses.
Quando Carlos III chegou às portas do Palácio de Buckingan e saiu do carro ouviu-se um leve murmúrio. Ele dirigiu-se à multidão e começou a receber os sentimentos de centenas de pessoas. Uma senhora deu-lhe um beijo. E quase nada se ouvia para além de silêncio.
O repórter da SIC, Emanuel Nunes, comparou esta chegada de Carlos III às chegadas de Isabel II e rapidamente constatou e conclui, do topo da sua sapiência (sim, que ele jornalista!!!) que, sendo o primeiro recebido por silêncio e a segunda recebida com "vivas" e aplausos, então Carlos III não é popular e terá grandes dificuldades em manter a monarquia!
Isto é somente estúpido!
Só quem não tem nenhum conhecimento dos Britânicos e do seu modo de ser e estar pode dizer uma barbaridade desta dimensão.
Quem tem a responsabilidade de informar, de instruir, de comentar, tem a obrigação, mesmo o dever, de conhecer, de se inteirar, de se informar, em suma, e utilizando uma expressão muito britânica, de "se por nos sapatos dos outros".
Muitos dos nossos comentadores só sabem calçar os seus próprios sapatos, e estão gastos, rotos, veem-se os joanetes da ignorância, do orgulho e os calos da arrogância de quem tem a mania que sabe tudo sobre tudo.