“Oh” PÁTRIA e o Sol que nasce para todos, quer queiram, quer não!
"A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade."
Sigmund Freud
O governo fez um ano e, ontem (31 de Março), saíram um conjunto de sondagens em que a esmagadora maioria dos inquiridos consideram que este governo é mau ou mesmo muito mau, com taxas de desaprovação que ultrapassamos 65%.
Tudo isto é perfeitamente normal em democracia e num Estado de direito democrático. Simples de resolver! Nas próximas eleições "rua" com o governo e que venha o próximo!
No entanto há aqui 2 fatores que tornam os resultados destas sondagens ridículos, grotescos, absurdos: é que o povo que agora "dá negativa redonda" a este governo foi o mesmo que, exatamente, há um ano (365 singelos dias) o elegeu governo, MAIS!!!! com maioria absoluta!!
O governo que já não serve tem mais 3 anos de legislatura segura e estável, democraticamente conferida pelo povo que acha que ele é muito mau!
E isto é preocupante para além de ser mesmo, mas muito mesmo, ridículo!
E o que está no fundamento desta estupidez?
Uma coisa muito simples:
Nas democracias modernas ocidentais os cidadãos pedem ao Estado o que negam ao Estado.
Eu explico.
Cada vez mais as populações exigem, e bem, o respeito pelos seus direitos, liberdades e garantias, que preservem a sua privacidade, que não se belisque o seu direito à iniciativa e à expressão das suas ideias e ideais.
Tudo isto é louvável! Tudo isto é nobre, tudo isto é a materialização do que se entende como democracias maduras, estáveis e consolidadas.
Mas, por outro lado, exige ao Estado que regule a taxa de juro para que os cidadãos não se endividem em demasia, que aplique "taxa de esforço" para evitar que as famílias abusem do crédito ao consumo, que regule atividades de modo a conter os efeitos da concorrência, que controle o preço dos produtos, que obrigue proprietários a arrendar as suas casas a preços tabelados e muito, muito mais…isto é, queremos ser livres mas exigimos sermos controlados.
Somos uma sociedade que se quer liberal, mas que tem mais entidades reguladoras que os Estados totalitários, cuja principal função é por limites à liberdade que nós próprios exigimos.
Precisamos, pedimos, até exigimos, literalmente de "um" Pátria, uma figura tutelar e paternal que, embora nos deixe sair à noite nos impõe uma hora de regressar bem cedinho!
Porque um Estado liberal e capitalista somente é regulado pela lei da oferta e da procura, em que quando mais abunda um bem ou serviço mais barato ele se torna para o consumidor e quando mais raro, mais caro.
Este sistema é dinâmico e impulsionado pelo famoso princípio da "mão invisível" do Adam Smith em que a ambição de cada um dos indivíduos alavanca o bem comum. A ambição, mesmo a ganância, de alguns, de quererem ser mais riscos, mais prósperos, levo-os a inovar, a criar, a investir e, com isso, dinamizar a economia, e essa dinamização reverte para o bem de todos.
Porque, numa sociedade de mercado, e liberal, ninguém consegue ter sucesso sozinho. Se se vende é porque se compra, e se não se vender bem ou a um preço que o mercado ache razoável, deixa-se de vender.
É simples, é límpido, é transparente.
O mercado liberar regula-se a si próprio e essa regulação está na mão do consumidor, isto é, do povo.
Nada mais democrático que a economia de mercado.
Há, no entanto, aqui um senão: não se compadece nem com a inutilidade, nem com a preguiça, nem com a laxismo.
O liberalismo é, na génese, meritocrático.
Os que trabalham prosperam os outros não.
Também o simples e naturalíssimo princípio da lei da seleção natural.
E não prosperar, sejamos diretos e frontais, é ser pobre, é não ter acesso a muitos bens de consumo, é não viver nas melhores condições, é, muitas vezes, passar necessidades.
E é isso que o Estado Social não aceita.
Estou longe de concordar e até aceitar que se deixe os mais necessitados abandonados à sua sorte, especialmente quando, em muitos casos, a causa do seu infortúnio não pode ser atribuída diretamente ao próprio. Mas ajudar não é o mesmo que equiparar, empatia não é o mesmo que simpatia, devemos ajudar, de modo a manter a dignidade do indivíduo, mas sempre com o objetivo de promover que essas pessoas se tornem válidas, produtivas, úteis e não dependentes crónicas de assistências sociais insustentáveis. Como diz o velho ditado chinês "melhor que dar o peixe é ensinar a pescar".
Mas não é isso que o Estado social faz.
O Estado social, ao querer o bem de todos, impõe esse bem, gerando injustiças gritantes.
Estamos, perigosamente, a confundir igualdade com paridade. Igualdade é termos todos as mesmas oportunidades, os mesmos direitos e os mesmos deveres. Igualdade não é termos todos o mesmo património nem riqueza.
E é precisamente isso que os cidadãos querem e os políticos, sedentos de votos, prometem sabendo, de antemão, que tal é impossível.
Todos querem ter o que outro tem sem estar disposto a fazer algo para o possuir.
Todos querem ter as mesmas coisas, mas nem todos estão dispostos ou preparados ou capazes de fazer o mesmo para lá chegar.
E isto, para além de impossível, é estupido.
As sociedades modernas tornaram-se comunistas nos direitos e capitalista nos deveres, dando forma e sentido à velha frase "o que é meu é meu, o que é teu é nosso".
Se não podemos ser todos ricos então ninguém é rico!
Sejamos todos pobres!
Mas, esquecem-se que, se a riqueza gera riqueza, a pobreza gera pobreza.
Uma sociedade sem riqueza é uma sociedade sem liquidez, é uma sociedade em círculo vicioso de empobrecimento, pois não gasta, não investe, não consome, logo não há para quem produzir, logo não se produz e se não se produz surge o desinvestimento, o desemprego, a estagnação.
Taxar a riqueza é punir os melhores pelo seu sucesso.
E quem castiga os melhores promove os piores criando uma mediania nivelada por baixo que faz com que a obrigação seja equiparada a mérito, o dever a heroísmo e a lógica a genialidade.
Quando "ser normal" é o bastante para um sucesso encenado a excelência deixa, de facto, de valer a pena.
Porque o padrão passou a ser o muito mau, o razoável confunde-se com a excelência e assim vamos indo, medíocres, suficientes, "pouquechinhos" e satisfeito com as migalhas a que nos condenamos.
As convulsões, roturas e confusões da política europeia dos últimos tempos, as crises consecutivas e insolúveis são a prova disso.
O ocidente quer o melhor de dois mundos e isso só é possível nos sonhos ou nos manuais de filosofia política.
Desta forma o ocidente está numa encruzilhada, num dilema:
Ou assume que quer ser um Estado controlador, regulador, de voz grossa e palmatória, que mantém todos ao mesmo nível, iguais na vidinha desgraçadinha, em que quem trabalha tem o mesmo retorno de quem não o faz, quem se esforça obtém o mesmo mérito de quem não se mexe, de que quem inova e cria tem o mesmo proveito de quem nem se importa com nada; ou assume que há vencedores e vencidos, há capazes e incapazes, há esforçados e depois há os preguiçosos, há os que alavancam a sociedade e o progresso e os que não o fazem.
E que, pelo mérito, pela realização, cada um recebe o proveito daquilo que produziu e realizou e tudo isto segundo o mercado, por mais irracional e estúpido que, por vezes (e, para mim, é muitas vezes) nos possa parecer.
Pagar 4.500€ por uma carteira? Para mim é um absurdo. Mas se há quem compre, então mérito a quem a criou e lhe colocou esse preço pois obteve o sucesso.
E tem de ser essa a lógica!
Pois quem compra essa carteira simplesmente usou da sua liberdade de o fazer, para ela não é um absurdo e em democracia, na verdadeira democracia, todos temos direito à nossa liberdade, até aos nossos absurdos.
A sociedade tem, urgentemente, de se definir.
Os cidadãos têm de, muito rapidamente, tomar uma decisão, porque o caminho que está a ser seguido, está visto, levar-nos-á, rapidamente, ao precipício.
Não é sustentável manter um Estado meio liberal e meio social.
Simplesmente porque qualquer sistema sustentável tem de gerar mais-valias superiores às que consume, tem de ganhar mais do que gasta, e isso está longe de se verificar e assim não é possível continuarmos.
Os cidadãos têm de entender que as promessas do Estado social do pós-guerra não resistiram ao seu próprio sucesso e que criou mais problemas do que soluções, trouxe mais desigualdade que igualdade, trouxe mais pobreza que riqueza.
O certo disto tudo é que a história, tirânica e magnânima, se encarregará de resolver o problema e tomar uma opção.
Seja a bem ou a mal haverá sempre um amanhã e o sol voltará a nascer.
Esperemos para ver quem o verá, como o verá e qual será o seu brilho.
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