O Sr. Francisco trocado em miúdos por José Pedro Gil

Lá em casa não havia o Chico Buarque, nada disso!!! Havia, sempre houve, desde que me lembro, o Francisco Buarque de Hollanda. Sempre fui educado e ensinado, e bem, pelo meu pai, a ver e a ouvir o Chico Buarque como um vulto maior e incontornável da música, mas, fundamentalmente, da literatura e da poesia em português.

Francisco é, para mim, um poeta imenso que, por acaso, canta maravilhosamente a poesia sublime que escreve.

Por causa dele (salvo seja) arranjei problemas na Universidade Católica, quando fiz publicar, na revista literária da vetusta e mui moral instituição, a lírica da música "o meu Amor" da "Opera do Malandro" do Chico, provando que na música também há grandes poemas e grandes poetas…. Voltei a ter o mesmo problema quando publiquei "O Fado dos Cherinhos" do José Carlos Ary dos Santos… e depois também o "Ana Lee" do Rui Reininho… À terceira foi de vez: fui expulso da direção da revista…. A minha "vingança" serviu-se, pelo menos, em parte, fria, com o Chico Buarque a vencer o Prémio Camões em 2019!!! Falta o Ary e o Reininho para ser completa!!! Embrulhem!!!!)

Neste álbum "Trocando em miúdos" de José Pedro Gil, é revisitado Chico e o Francisco, em Português de Portugal, com uma intimidade quase "fadistica", com toques jazisticos, mas sem negar os ritmos "cariocas" da Bossa Nova que lhe está na origem (sim, é possível!!!!!).

Um álbum introspectivo, para ouvir com calma, serenidade e exclusividade (ouvir, só ouvir, sem mais fazer mais nada!)

Este trabalho é a prova que Francisco Buarque supera nacionalidades, origens, influências, tendências e tempos. Chico é, de facto, um cidadão da língua portuguesa e, como todos os "portugueses globais", não tem tempo, não tem espaço, não tem circunstância. É de sempre e para sempre, o mundo não tem limites nem fronteiras para além da ânsia da gesta e a circunstância é de todos as Mulheres e Homens que connosco a partilham.

É esse Francisco, esse Chico, universal, intemporal, mundano, eterno, que encontramos neste álbum absolutamente excecional.

E uma grande, imensa vénia ao José Pedro Gil, pelo talento, pelo profissionalismo (álbum sem mácula, da capa à gravação, à interpretação, já para não falar nos geniais arranjos das canções do Chico) pelo bom gosto, pelo respeito, e, fundamentalmente, pela coragem!!! Revisitar Chico Buarque??!!!!

Como se diz aqui no Norte: "é preciso tê-los no sítio".

Uma homenagem ao Chico Buarque, um reconhecimento ao Francisco Buarque de Hollanda, uma confirmação do José Pedro Gil como uma figura destacada, sólida e consolidada da música contemporânea portuguesa.

Recomendo muito.

Álbum "Trocando em miúdos" de José Pedro Gil com direção musical de Nelson Ayres - edição da Biscoito Fino

Disponível no Spotify e iTunes.