O POVO É QUEM MAIS ORDENA e a expulsão dos deputados do Chega da manifestação
"A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano."
Voltaire
O mal de todas as normalidades é que nos habituamos a elas.
E habituamos de um modo tal que deixamos de questionar as suas bases, os seus fundamentos e a sua importância.
Mesmo quando essa normalidade é a base de tudo o que somos e o mais precioso que detemos.
É o caso da democracia, da livre expressão, da liberdade de pensamento, de associação, de movimento.
Muito felizmente estes direitos, liberdades e garantias tornaram-se tão normais, tão adquiridos e tão quotidianos que se assumem como banais, assumidos e garantidos.
E se a normalidade é um bom indicador, a sua banalização e assumi~la como garantida não são bons indícios, muito antes pelo contrário.
Vamos refletir com base num acontecimento real e que, por todos, foi desvalorizado ou mesmo ignorado:
Há umas semanas algumas plataformas de cidadãos que se afirmam independentes de partidos e sindicatos, organizaram, por todo o país, marchas contra a política da habitação, contra a especulação imobiliária, contra a falta de acesso a casa.
Milhares de pessoas desceram às ruas!!!
Nada de novo e nada que sequer preocupe este governo, tão cheio de si e tão confortável na sua maioria absoluta que nem se "rala" com o burburinho incómodo "dessa" coisa desagradável, desse mal necessário chamado de "cidadão".
Como é óbvio vários partidos políticos quiseram associar-se ao movimento, capitalizando esta "causa fracturante" e, com isso, arrecadando alguns votos (pelo menos assim acham eles).
Sem grande espanto um partido que se assume de direita mas que outros apelidam de "extrema-direita" associou-se ao movimento.
E eis que os representantes desse partido, o Chega, que, já agora, são deputados eleitos à Assembleia da República, são expulsos da manifestação por uma horda "defensores do povo", tendo de ser escoltados por forças policiais para poderem sair em segurança da manifestação.
De facto, a polícia não devia ter escoltado os deputados para fora da manifestação, mas antes ter detido e acusado aqueles que se impuseram contra a sua presença.
Vamos esclarecer alguns pontos fundamentais:
Primeiro: os deputados do referido partido são cidadãos livres e no pleno uso da sua cidadania.
Logo tem o direito absoluto e inegável à livre expressão, à livre associação e à livre circulação.
Nada nem ninguém os pode expulsar seja do que for, ainda para mais quando se trata de algo que decorre na via pública.
Condicionar a liberdade de expressão, de manifestação e de movimento são crimes que atacam os fundamentos mais básicos da nossa liberdade e da nossa democracia.
Em segundo: não há "causa exclusivas", não há "senhores de ideais", não há "possuidores de movimentos".
A esquerda habituou-se a ter o exclusivo da manifestação, do protesto e da reivindicação.
Só movimentos de esquerda podem falar pelo povo, só esses podem fazer "jornadas de luta", só esses podem representar as minorias, só estes podem empunhar cartazes e fazer passeatas.
E se alguém tenta fazer o mesmo, a esquerda, e imediatamente, insurge-se contra esse "abuso" de forças partidárias ou movimentos de direita "reacionários". tentarem "usurpar" os domínios do socialismo ou do comunismo.
E é nesses momentos que "cai a máscara" à esquerda e se vê a sua verdadeira origem, a sua verdadeira face, a sua verdadeira essência, fiel, diga-se, às suas remotas origens: ditatorial, antidemocrática, elitista e absolutista.
De facto, as "elites" e "cúpulas" da esquerda acham-se, porque sempre se acharam, superiores a todos os outros, mais esclarecidas que todos os outros, mais inteligentes que todos os outros, mais cultas que todos os outros.
Assumem como missão ter de orientar, com mão de ferro e mente brilhante, o povo ignorante e alheado na defesa dos seus próprios direitos, expurgando e eliminando as "forças reacionárias" que vão surgindo.
Essas "forças reacionárias", elucide-se, são tudo aquilo e todos aqueles que discordam do que as tais cúpulas pensam, decidem e impõe, seja o que for, seja quem for.
Nem que essas "forças reacionárias" sejam partidos que se submeteram a eleições livres e democráticas, que receberam o voto de milhares e milhares de cidadãos, que, assim, elegeram deputados à Assembleia da República e que, dessa forma e, no respeito da Constituição, Lei fundamental do Estado, representam os cidadão que os elegeram.
A extrema-esquerda portuguesa é tão ditatorial, incoerente e antidemocrática que expulsa, com o argumento de estar a defender a vontade popular, partidos que tiveram mais (muito mais) votos que elas próprias em eleições livres, justas e democráticas.
A esquerda continua a acreditar que uma "minoria esclarecida" (entenda-se que concorda com as cúpulas) vale mais que uma "maioria ignorante" (entenda-se que discorda das cúpulas).
Só que não: em democracia a maioria é mesmo uma maioria e as minorias (esclarecidas ou não) submetem-se à vontade da maioria.
Todos somos iguais porque todos nascemos debaixo do mesmo céu.
Todos temos os mesmos direitos e todos temos os mesmos deveres.
Todos valemos o mesmo e não há uns melhores do que os outros.
Isto, e SÓ isto, é a base, o dogma e a razão de ser de todo o pensamento democrático.
Só para terem uma visão clara do estúpido, ridículo e absurdo de tudo isto: duas forças políticas, que, juntas, tem 11 deputados eleitos expulsaram, com argumento de não representar o povo, outra força política que, sozinha, elegeu 12 deputados.
Se isto não é MUITO estúpido, então, sinceramente, não sei o que seja.
Sejamos claros e frontais: para a extrema-esquerda e para toda a outra que, não a condenando, com ela pactua e concorda, só apoia a democracia e os democratas desde que estes concordem com as suas ideias, se submetam à sua vontade e se tornem obedientes às suas cúpulas dirigentes.
Quem não está com eles está contra eles, mesmo que quem está contra eles tenha sido sancionado por expressivo voto popular.
Este modo de pensar, este modo de estar em política, este modo de entender a democracia está errado, profundamente errado e é base e fundamento de toda e qualquer ditadura.
Este modo de atuar hipócrita e incoerente é criminoso e perigoso pois ataca, diretamente, os fundamentos da nossa democracia, do Estado direito e da liberdade de todos os cidadãos.
Pactuar e não condenar veementemente estas atitudes ditatoriais, absolutistas e opressoras é concordar com elas, é pactuar com o crime, é ser conivente e cúmplice de toda esta farsa.
O povo é quem mais ordena mesmo quando vai contra o que acreditamos, o povo é soberano mesmo quando não segue aquilo que pensamos, o povo é que detém o poder mesmo quando, achamos, o utiliza mal.
Porque, para os verdadeiros democratas, a vontade do povo é absoluta e insuperável e a sua decisão definitiva e não suscetível de ser questionada seja por que razão for.
Atacaram, direta e violentamente, as bases do sistema democrático e todos se calaram….
Nisso a extrema-esquerda também continua a ser ótima: faz tanto barulho que cala todas as outras vozes.
Só se ouve a si própria, só permite a sua voz, só concorda com o seu próprio eco.
Para a extrema-esquerda, hoje, como ontem, o pluralismo de ideias e a liberdade de expressão e de pensamento são males que se tem que suportar porque, simplesmente, não se podem erradicar.
É o mal da normalidade.
Estamos tão habituados à liberdade e à democracia que as assumimos como eternas e adquiridas, inquestionáveis, e achamos que não são vulneráveis a ataques e atentados.
Estamos errados!!!!
A democracia não é um bem adquirido e a liberdade não é um direito inquestionável e eterno.
Ambas tem de ser impostas e defendidas porque, ambas, são atacadas diária e constantemente, por esses radicais e extremistas que querem impor a sua vontade, as suas ideias, o seu poder.
A liberdade e democracia deviam ser defendidos pelas instituições criadas para o fazer.
Mas não são….
E se os órgãos de soberania, cobardes e calculistas, não se insurgem contra estes ataques, temos que ser nós, cidadãos, a fazê-lo.
Como?
Recorrendo ao poder que nos foi dado pela Constituição: o poder do nosso voto.
E, com esse poder, erradicar da vida política portuguesa todos aqueles, sejam de esquerda ou de direita, que põe em causa as bases e os fundamentos da nossa democracia, da nossa liberdade e do nosso Estado.
O povo não pode permitir que ponham em causa a sua inquestionável soberania mesmo quando é dito que é para o seu próprio bem.
O povo é quem mais ordena.
Sempre e sem exceções.