O FUTURO DO PLANETA TERRA: o nosso pequeno pálido ponto azul

15-11-2022

Escrevi, há uns tempos, que nem todas as causas são para todos os momentos (conheçam algumas das minhas "divagações" em https://realpolitik-uk.webnode.pt/pensamentos/ ).

E continuo a concordar.

Durante estes dias estão reunidos, no Egito, os líderes do mundo livre (e não livre) a discutir as alterações climáticas, s suas causas e consequências, e o que fazer em relação a esse terrível fenómeno, que põe em risco o nosso frágil planeta.

Também, por todo o país, jovens ativistas ocupam escolas, edifícios de organizações públicas e privadas exigindo, entre outras coisas, o fim imediato da utilização dos combustíveis fósseis e a implementação imediata de medidas de proteção do ambiente, para além da demissão do Ministro da Economia.

Vamos então refletir, um pouco, sobre estes acontecimentos.

Dei o título a este artigo recordando, primeiro, uma fotografia obtida a 14 de fevereiro de 1990 pela sonda espacial dos Estados Unidos da América Voyager 1 que estava a 6 mil milhões de quilómetros da terra (recomendo a leitura do artigo da Wikipédia https://pt.m.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1lido_Ponto_Azul ). O nosso planeta é, a essa distância, somente um pequeno ponto azul. Nada o distingue, nada o destaca, não se veem grandes civilizações nem grandes feitos, tecnologia desenvolvida ou elevada cultura.

Nada!!

Somos um ponto de pó no universo.

Somente isso, unicamente isso.

Foi essa reflexão que, na Universidade Cornell em 1994, fez o Professor, escritor e astrónomo Carl Sagan (mentor e diretor do projeto Voyager e um dos grandes divulgadores da ciência para o grande público com programas de televisão e livros e recomendo o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=tRjVDOgGJ8Y ).

Tal como dizia o Prof. Carl Sagan o nosso planeta é algo de frágil, ténue, um pálido ponto azul numa imensidão cósmica arrebatadora. No entanto, pelo menos por enquanto, é o único local onde podemos habitar. Não há alternativa a este habitat que, sendo o local da nossa origem, pode muito bem ser o local do nosso fim.

As alterações climáticas são, obviamente, indiscutíveis.

A escassez de água, de humidade, o aquecimento global, o empobrecimento dos solos, o degelo, a subida do nível das águas, a cada vez maior frequência de fenómenos extremos como tufões, chuvas diluvianas, vagas de calor... são algo que temos de ter uma consciência clara e muito realista.

Também temos de enfrentar o facto que, na origem desta imensa destruição, estar o Ser Humano e a sua necessidade crescente de recursos e também, quase por consequência, de destruição e contaminação ambiental.

Afinal, ontem, 14 de Novembro de 2022, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que, em 2035 (dentro, apenas, de 13 anos) seremos 10 mil milhões a viver no planeta.

Hoje, mesmo hoje, dia 15 de Novembro, meios de comunicação social de todo o mundo anunciaram que atingimos os 8 mil milhões de Seres Humanos no Planeta (https://news.sky.com/story/world-population-to-hit-eight-billion-as-projections-reveal-where-is-growing-the-fastest-12747549 ).

Tem de se fazer algo!

E rapidamente!

Isso é inquestionável.

Mas, por outro lado temos.... por outro lado...

A terra é finita, tanto em termos de espaço como em termos em recursos. Se aceitarmos o facto de sermos 10 mil milhões temos de assumir que todas essas pessoas têm de ter um local para estar, um local para trabalhar, comida para se alimentar, água para beber, calor para se aquecer, roupa para vestir, meios para se deslocar. E só há um local onde se pode obter todos os recursos necessários para tudo isso: no planeta terra.

Também temos que assumir, e bem, que, atualmente, não basta viver, mas tem de se viver com dignidade, com qualidade, com salubridade, ainda que mínimas, isto é, tem de viver gozando de um estado pleno de saúde, isto reportando ao conceito aceite e assumido da Organização Mundial de Saúde que afirma que saúde não é somente a ausência de enfermidades, mas um estado de bem-estar físico, mental e social da pessoa humana.

Estes pressupostos obrigam-nos a admitir, por muito que nos custe, claramente e frontalmente, que se reduzisse, agora, neste momento, nem que fosse numa pequena quantidade, a agropecuária intensiva, a utilização de combustíveis fósseis, o consumo de proteína animal e se terminasse com a sobre-exploração dos recursos hídricos, milhões de pessoas, pura e simplesmente, morreriam de fome, de sede, de frio.

Não seria no nosso tão confortável "mundo ocidental".

Por aqui as coisas ficariam mais caras, haveria algumas roturas, necessidades, pobreza nas populações mais vulneráveis...

Mas países há em que muitas populações ficariam abaixo do limiar mais básico de pobreza, de sobrevivência e milhões de crianças, mulheres, homens, idosos morreriam e isso não o digo em sentido figurado.

É óbvio que todos os cálculos dos ambientalistas estão corretos.

A ciência o prova.

A água necessária para produzir um litro de leite está na proporção de 1.000 litros de água para 1 litro de leite, uma vaca necessita mais água do que milhares de hectares de solo arável e produz mais gás metano que algumas centenas de veículos. A não utilização de combustíveis fósseis iria retardar, em muito, senão mesmo parar, o aquecimento global, o degelo das calotas polares, etc., etc.

Mas, do mesmo modo, essas medidas, repletas de racionalidade, necessárias, imperiosas, gerariam uma vaga de consequências desastrosas para milhões de milhões de pessoas num futuro imediato.

A médio e longo prazo salvaríamos milhões, talvez mesmo a espécie, mas, entretanto, causaríamos a miséria, o desespero e a morte a outros tantos milhões.

Isto para afirmar o seguinte: a política não é a atividade do ideal, mas do possível.

Em primeiro lugar temos de aceitar que, há muito, devíamos ter feito algo em relação ao ambiente. Não fizemos. É a realidade. Agora é lidar com ela. Nada a fazer!

Criamos um mundo tão desigual, tão díspar, em que o abismo entre os mais abastados e necessitados é tão grande que a utilização dos recursos reflete esta realidade. Produzimos muito, mas esse muito só é acessível a muito poucos o que faz com que o resto da população tenha de produzir ainda mais (muitas vezes pondo em causa o muito ambiente), para ter algo para comer.

Enquanto 10% da população deter 90% da riqueza não há equilíbrio possível.

Em segundo lugar temos de admitir que não há soluções imediatas e radicais para questões tão profundas como as ambientais.

Não há!

Por muito urgente que seja (e é), por muito grave que seja (e é), não há "varinhas mágicas" nem "bastões de mágico".

Algo tem de ser feito, mas não pondo em risco as cadeias de valor e de fornecimento, sem escaladas radicais de preço, sem crescimentos galopantes de inflações e aprofundamentos abismais de desigualdades entre países e nações, que, e mais uma vez, se a médio e longo prazo valeriam bem pena, a curto prazo provocariam um cataclismo de proporções épicas pondo em causa a subsistência e a vida de milhares de milhões.

Não se pode literalmente matar milhões de pessoas por uma causa, seja ela qual for.

Trata-se de matemática elementar: se 90% da população vive, unicamente, com 10% dos recursos, uma variação, mínima que seja, nesses já "magríssimos" 10% causa danos avassaladores na população que deles diretamente dependem. Para quem tem 90% de alguma coisa, perder 5% é "chato", mas continua-se com os confortáveis 85%. Mas para quem tem 10%, 5% é pura e simplesmente a metade, e a metade de pouco, muito pouco.

Quando falamos em "é preciso reduzir, somente, 3% (seja no que for)" temos de ter a real consciência que esses 3%, para nós uma insignificância, para muitos, para 9 em cada 10 habitantes do planeta, é a diferença entre comer e não comer, viver ou morrer.

Ontem, uma jovem, falando orgulhosamente para a televisão, gozando dos seus 5 minutos de fama, afirmava, convictamente, que se todos os habitantes do planeta abdicassem de uma refeição por dia isso reduziria a sobreprodução em mais de 35%. Além de fazer "super bem" à saúde, concluía. Esqueceu-se essa menina que uma refeição por dia, para centenas de milhões de pessoas neste mundo é a única refeição do dia e, por vezes, nem isso.

Em terceiro: não vale a pena extremismo.

Não vale a pena radicalizar posições e vincar posições.

"Exigir" o fim imediato da utilização dos combustíveis fósseis não é marcar uma posição, é só ser estúpido. E essa estupidez irrealista irá dar força aos grupos de pressão que não tem interesse nenhum no fim (nem sequer na redução) da utilização desses combustíveis.

Até as mais justas causas não se podem dar ao luxo de perder a racionalidade, a credibilidade, o realismo, a ponderação, a inteligência.

E o radicalismo, os imediatismos e as "causas fraturantes", ao contrário do que muita "esquerda caviar" pensa, não trazem benefício nenhum.

Antes, noutros tempos, chamavam a atenção, impunham-se nas agendas políticas, pressionavam e geravam resultados. Atualmente, em que a "combustão" noticiosa é tão grande, em que a dispersão de conteúdos é tão avassaladora, uma notícia que "abra um telejornal" é, em 48 horas, assunto esquecido, "atropelado" por outro assunto "bombástico", ainda mais "fraturantes" que, entretanto, surgiu. E não tem com a pertinência, importância e\ou relevância dos assuntos, temas e causas. Tem "só" a ver como as populações ocidentais "consumem" conteúdos.

Alguém sabe onde anda a Greta Thunberg? Estão a ver....

Outro exemplo: os alunos de várias escolas estão a ocupar os seus estabelecimentos de ensino e dizem que só de lá saem quando se deixar de usar combustíveis fósseis e o ministro da economia se demitir.

O que vai acontecer?

Dentro de alguns dias eles vão para casa com as trouxas debaixo do braço porque estão exaustos e já ninguém lhes liga e, como é mais do que óbvio, vai-se continuar a usar combustíveis fósseis, o ministro não se vai demitir (pelo menos por esta razão).

Os jovens irão afirmar que ficaram com a consciência do dever cumprido, terão imensas histórias para contar e milhões de selfies e histories para mostrar, mas, de facto, tudo fica na mesma.

Tudo fica na mesma não!!!!

O pior é mesmo isso: a causa, que era válida e justa, perdeu impacto, credibilidade e relevância.

A próxima vez que alguém, mesmo seriamente, abordar a questão, será a questão dos "putos que invadiram as escolas e depois se foram embora".

As "causas fraturantes" são tão insensatas que se fraturam a si próprias.

Os que defendem o ambiente (que devíamos ser todos), tem de encontrar modos de ativismo, de luta, de pressão que, podendo ser menos mediáticos, serão, por certo, mais eficazes.

Em rigor o que temos de fazer é "jogar" o mesmo "jogo" e seguir os mesmos métodos daqueles que querem a continuidade da situação atual. Temos que ser tão habilidosos como eles, inteligentes, astutos, manipuladores, exercer influência no local, nas pessoas e nos sítios certos.

Temos de dominar a geopolítica, a geoestratégia, a diplomacia, o lobby, a influencia.

Se queremos "ganhar o jogo" temos que "ir a jogo" e sermos os melhores, os mais capazes, os mais fortes, porque, nos jogos que interessam, as "vitórias morais" são outro nome para derrota e o segundo lugar é, somente, o primeiro dos últimos.

E, fundamentalmente, apresentar soluções coerentes, realistas e sustentáveis, que seja possível implementar no terreno.

Delírios, utopias, irrealismos estão condenados a não sair do papel e enfraquecem as causas por mais meritórias que elas sejam.

Tudo perde força, credibilidade, impacto.

A prova é que todos os analistas concordam (coisa raríssima!!!!), que embora a conferência do ambiente que está a decorrer em Sharm el-Sheikh tenha um mediatismo imenso e um impacto político muito grande, em termos de resultados efetivos para o ambiente será o mesmo que nada.

Então porque ministros, presidentes e altas individualidades "perdem" o seu tempo em lá ir?

Porque tem muita importância pelos encontros bilaterais, "contactos de bastidores", para marcar posições em termos de política externa, equilíbrios comerciais, fazer alianças, sondar possíveis resoluções para o conflito na Ucrânia, sondar o nível de tensão em relação a Taiwan, espiar, manipular, subverter, influenciar, trair, e muito mais outras atividades muito "nobres"!

E o ambiente?

O ambiente serve de "capa", porque sendo uma causa consensual, é a desculpa perfeita para todos estarem presentes sem se comprometerem.... Afinal.... Só estão lá para defender o pobre planeta que está em risco... tão "bonzinhos" que eles são!!!

Por último, e desculpem a extensão do texto, temos que, em definitivo, tomar sérias decisões.

Como já disse o planeta e os seus recursos são finitos a todos os níveis e não há volta a dar a esse facto.

Não é possível ter um ambiente saudável e alimentar 10 mil milhões de pessoas, não é possível vestir, deslocar, educar tanta gente sem levar ao limite e, tarde ao cedo, à rotura, este frágil paládio ponto azul.

Temos de pensar o ambiente, a sustentabilidade energética, a política alimentar, as estratégias de progresso e universalidade dos cuidados de saúde e da educação assim como a igualdade de género?

Temos!!!

Mas antes de mais e primeiro que tudo, por muito que nos doa e seja incômodo, temos de pensar a humanidade como um todo.

E fazer essa reflexão com seriedade, com realismo, e, fundamentalmente, com o compromisso que somos todos Homens e que este planeta é o único lugar que temos para o ser.

Mas essa reflexão ficará para outro dia!