O FUTURO DA GUERRA NA UCRÂNIA e ter de enfrentar a realidade!
Algo que quem anda nestas lides da Geopolítica e Inteligência estratégica internacional já se habituou há algum tempo é que uma coisa é o que queremos outra o que acontece; uma coisa é o que é justo, outra o que é possível; uma o que é legal outra o que é legítima... e por aí fora...
Afinal a função da Inteligência Estratégica é analisar e resolver os problemas, não teorizar e discursar sobre eles.
Para isso já chegam e bastam os políticos....
Os factos são que, 1 ano depois da invasão da Ucrânia por parte da Rússia, há algumas circunstâncias que temos de enfrentar:
Por um lado a Ucrânia está a resistir de um modo incrível e heróico às poderosas Forças Armadas Russas (que afinal não eram nem assim tão poderosas nem assim tão capazes).
A Ucrânia, as suas Forcas Armadas e, fundamentalmente, o seu povo, estão a sustentar e a manter, literalmente com sangue, suor e lágrimas, uma residência tenaz, diária, incrível.
Mas em termos militares resistir não é vencer!
Longe disso!
E se a Federação Russa continua a ter reservas imensas de militares e material para "despejar" no conflito (e, por muito que se negue, tem e sem qualquer tipo de preocupação, consciência, moral ou restrição humanitária ou económica), a Ucrânia, mesmo com auxílio continuado do Ocidente, está a ficar no limite das suas forças.
Primeiro porque estão a faltar mulheres, homens, forças, para empunhar as armas que, por muito eficazes e abundantes que sejam, de nada servem se ninguém as usar ou for capaz de as usar eficazmente.
Porque, ao contrário do que muitos civis pensam, isto de operar uma arma, especialmente as que podem fazer a diferença no conflito Ucraniano tais como Carros de Combate (vulgo "Tanques") ou Aviões de Combate (como os famosos F16 americanos), não é como no mundo civil que, mais coisa menos coisa, quem conduz um carro, conduz todos, quem anda de mota também anda de bicicleta e lambreta!
Atualmente, um militar, para se tornar eficaz na utilização de uma arma em especifico demora meses em formação e anos de experiência e, isto, para cada modelo em especifico de arma: quem sabe operar um T-84 OPLOT (carro de combate que está a ser utilizado pelos ucranianos), demorará meses a aprender a operar um Leopard II (carro de combate alemão em uso na NATO) e muito mais tempo a ser eficaz com ele, isto é, a poder fazer a diferença.
O caso torna-se mais agudo ainda quando nos referimos aos MiG-29 ou Su-27 (Aviões de combate a serem utilizados pela Força Aérea Ucraniana) em relação aos F16 Norte-Americanos!!!!
Tudo é diferente!
Até o alfabeto em que estão inscritos os comandos é diferente!!! (só para dar um exemplo o mais básico e ridículo possível!!)
O fornecimento de armamento ocidental à Ucrania só seria eficaz a curto prazo se, com esse equipamento, fossem militares ocidentais capazes de os utilizar e, isso, como se sabe, constituiria, sem margens para dúvidas ou segundas interpretações, o envolvimento direto de forças armadas NATO no conflito, o que seria, por si só, uma declaração de guerra aberta e explicita à Rússia, segundo as convenções internacionais.
Em segundo lugar porque, temos de admitir, os vaticínios dos comentadores políticos ocidentais são mais sonhos que realidades: nada indica, antes pelo contrário, um enfraquecimento da posição de Vladimir Putin nas cúpulas do Kremlin, nem tão pouco o enfraquecimento do seu estado de saúde (o tal cancro grave e fulminante afinal, ou não existe ou é, do ponto de vista médico, muito atípico, senão milagroso).
Putin está, tudo indica (porque, desde há séculos, o que se passa no Kremlin nem no Kremlin se sabe), de "pedra e cal" na liderança política da Federação Russa.
Desta forma o conflito ucraniano pode durar indefinidamente, só dependendo a sua intensidade e iniciativa da muita fraca e inoperante estrutura e fluxos logísticos das Forças Armadas Russas (especialmente no que diz respeito à infantaria e cavalaria), lentas, burocráticas e incompetentes desde os tempos de Pedro, o Grande.
Os Russos sempre foram militares excecionais em combate, mas isso em ações militares concretas ao nível operacional, tais como ataques, defesas e reações, nunca em manter posições por tempo prolongado (que militarmente é um pesadelo seja para quem for).
Aí são, em absoluto, calamitosos.
Mas, não obstante este "eterno calcanhar da Aquiles" das Forças Russas, o conflito pode prolongar-se por tempo indefinido, pois, a Rússia não está a ganhar, é um facto, mas a Ucrânia também não.
E não há "empates" militares.
Na guerra há sempre uma força que está a ganhar e outra que está a perder.
Sempre e sem exceção!
E neste caso é a Ucrânia que está a perder, porque embora a Rússia não tenha atingido os seus objetivos (e esteja muito longe disso) é a Ucrânia que tem o seu território ocupado, as suas cidades destruídas, as suas estruturas arrasadas, a sua população dizimada.
Por isso, do ponto de vista militar, podemos estar perante a possibilidade real de um conflito "morno" que dure anos.
Não podemos esquecer que, de facto, a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia, logo, o conflito armado, em 2014, nunca parando, nunca desistindo, quase nunca avançando, mas quase nunca recuando (a Ucrânia, desde 2014, não consegui recuperar nada na Península da Crimeia, mesmo quando tentava).
A opinião pública e os órgãos de comunicação social esquecerem-se dos conflitos não significa que eles deixem de existir ou percam intensidade (muito antes pelo contrário).
Ora, e se do ponto de vista militar, o conflito pode durar anos, do ponto de vista político não!!!
Em primeiro lugar porque as populações ucranianas estão no limite da sua resistência e muito pior ficarão no final deste inverno.
Sem ter o que comer, sem eletricidade, sem água, sem dinheiro, em absoluto sem nada, por muito que amem o seu país, até para o patriotismo, heroísmo e desejo de autonomia há limites.
Por seu lado Volodymyr Zelensky, também ele pode ser um herói, o homem do ano, o patriota, o líder, tudo isso e muito mais (que o é!), mas nem ele nem o seu governo tem tido argumentos nem soluções para resolver este conflito ou, efetivamente, auxiliar as populações no terreno.
Conflitos não se resolvem com discursos inflamados nas redes sociais e a motivação não chega para calar a fome, o frio e o desespero quando este se estende por meses... anos...
Cada vez Zelensky terá menos apoios, tanto internos como externos, cada vez a "máquina de propaganda" do SVR (serviços "secretos" russos, antigo KGB) serão mais eficazes no enfraquecimento da sua imagem e da sua influência, cada vez as suas fragilidades como político e gestor (que são muitas) serão mais evidentes....
Cada vez mais a insistência será assumida por teimosia, cada vez a coragem por obstinação e o patriotismo por orgulho...
E se os primeiros se louvam, os segundos condenam-se.
Também a estrutura mais próxima que, no início, cheia de força e empenho, apoiava, incondicionalmente, o seu líder, começará a demonstrar as suas fraquezas, os seus elos mais frágeis e começam a existir desistências, deserções, traições... como, se começa a ver, mesmo nos mais altos cargos da administração e da segurança ucraniana.
Por último (e muito em especial) a Europa Ocidental, em especial a União Europeia, também está no limite das suas forças.
No inverno de 2021 a União Europeia tinha reservas de combustíveis e cereais para sustentar a sua posição de força perante a Rússia.
No Inverno de 2022 a União Europeia já não tem essas reservas, mas tem (e em especial a sua população), liquidez Económica para pagar os preços especulativos e exorbitantes tanto por combustível como por cereal (e outros commodities) nos mercados externos como o Norte Americano (que está a enriquecer escandalosamente com este conflito).
Este impacto é notório e declarado pelas galopantes subidas das inflações nacionais e taxas de juro europeia, com as quedas drásticas e sucessivas no valor dos mercados e tecido empresarial europeu, cada vez mais sufocados pelo aumento das matérias-primas de que dependem e da desvalorização crescente do euro em relação à valorização progressiva do dólar o que torna ainda mais acentuado o desequilíbrio das balanças orçamentais e comerciais num circulo vicioso que só prejudica o Euro e, por consequência, a União Europeia.
Os governos europeus também já pouco mais podem fazer para suster esta crise.
Ainda fracamente recuperados dos impactos da Pandemia do COVID-19, sem margem fiscal e tributária, são obrigados, por um lado a "estrangular" a classe-média (a classe produtiva e contributiva, seja como consumidora, seja como contribuinte) com mais impostos, mas, como, com isso, diminuem o consumo, "emagrecem" a coleta, obtendo o efeito oposto ao pretendido!
Convenhamos que os governos, desta vez, não serão culpados da sua incompetência e demagogia: serão mesmo vítimas das circunstâncias.
Mas estes governos dependem da população, dos cidadãos, dos eleitores e disso depende a sua reeleição e manutenção no Poder que, na Realpolitik, no Deep State é o que, de facto, importa!
E, para o simples cidadão, as causas são sempre muito nobres e os ideais muito elevados até começarem a mexer nos orçamentos familiares e no estilo de vida das cada vez mais acomodadas e cada vez menos "humanizadas" sociedades ocidentais.
Aí, como se costuma dizer em "linguagem vulgar" (assim para dar laivos de ciência): tudo é relativo.
Desta forma os políticos ocidentais, e muito em específico a União Europeia, têm, por força, de encerrar, seja de que modo for, o conflito ucraniano, entre o início da primavera e meados do verão de 2023.
Tudo isto para repor algumas reservas e recuperar alguma liquidez financeira até ao início do inverno.
Também, como é óbvio, para dar algum tempo para que a Comunidade Internacional, especialmente a Ajuda Humanitária, possa fazer alguma coisa para minimizar os efeitos do inverno de 2024, que, se o de 2023 será calamitoso, o de 2024 seria holocaustico se o conflito perdurasse.
Por isso toda a iniciativa do conflito entre a Rússia e a Ucrânia está muito no que os Senhores (e em especial as Senhoras) em Bruxelas e Estrasburgo serão capazes e irão fazer e isso, obrigatoriamente, em tempo útil.
Pois a Ucrânia e a União Europa não têm (e não estou a ver como possam vir a ter) os 3 elementos fundamentais para saírem vitoriosos, a curto/médio prazo, de num conflito armado: iniciativa, tempo e força.
E se sobre o tempo já falamos e sobre a iniciativa também, para dotar a Ucrânia de força, mas de força efetiva capaz de fazer a Rússia ceder, só há uma hipótese (e mesmo essa de resultados incertos) que é o envolvimento direto e ativo de forças militares de países da NATO no conflito e isso (não há outras palavras para o dizer): seria a Terceira Guerra Mundial com consequências e escaladas que nenhum de nós quer, sequer, pensar (eu sei que os militares que estão a ler o texto estão a pensar em falsas baldeiras e blackops mas... alguém quer mesmo correr o risco?)
Desta forma, a menos que haja fatores que nos sejam completamente desconhecidos (e na Realpolitik e no Deep State há sempre), o desfecho do conflito ucraniano está decidido e é definido:
Falta saber para quando!
Compete-nos a nós, desde já e sem mais demoras, preparar um plano de ajuda e reconstrução eficaz e exequível para, logo que possível, devolver ao que restar da Ucrânia, a dignidade e o progresso que nunca devia ter perdido e repensar, muito seriamente e em definitivo, afinal que "segurança" os políticos ocidentais estão a edificar para garantir e proteger as Democracias e os Estados de Direito Democrático.
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