O FIM DE PUTIN!

21-03-2024


Uma pergunta que todos os que se interessam por política e geopolítica colocam é qual será o fim de Vladimir Putin?

Qual será o fim desta "história" que já marcou uma década, mesmo uma geração.

Porque, sem dúvida nenhuma, embora não pelas melhores razões, Putin já assegurou o seu lugar na história como personagem incontornável no contexto mundial dos últimos 20 anos.

E promete continuar porque, de facto, a história ainda não acabou e é precisamente esse final que todos gostávamos de saber.

Embora não faça futurologia nem domine nenhuma das muitas "artes" que existem para prever o futuro, posso, com base na análise de factos, tendências e indicadores fazer uma previsão (e somente isso) de qual será o final da era Putinista.

Há coisas que sabemos, por certo.

A primeira é que a sucessão de Putin não virá da sua família.

Vladimir Putin há muito que afastou a sua família das lides do poder.

Embora os enchendo de riquezas e privilégios (embora de um modo muitíssimo discreto), apoiando as filhas nas suas carreiras individuais, mantém a família completamente arredada da vida política e, obviamente, da hipótese de sucessão.

Com 71 anos, se Putin quisesse que alguém da sua família assegura-se a sua sucessão, já há algum tempo que teria de ter "introduzido" esse elemento na vida política e pública, para que a posição fosse, progressivamente consolidada, para que se começassem a fazer acordos, alianças (e eliminações).

Ora isso não aconteceu.

Por isso a hipótese familiar podemos ter por certo que não acontecerá.

Outra hipótese muito pouco provável é o sucessor de Putin ter origem na Função Pública, na "Máquina do Estado" Russo.

Os políticos, durante o mandato de Putin, sempre foram meros atores na encenação que o Presidente faz da vida política russa.

Vladimir é o único dono, senhor e decisor de todos os aspetos da vida política Russa, dominando todos os ministérios, dominando as duas câmaras do Parlamento assim como os tribunais.

A prova disso é que se vos perguntar, neste momento, o nome de qualquer outro político russo para além de Putin, a maioria de vocês não me saberia dizer.

Verdade?

Isso demonstra a nulidade, a apatia e a irrelevância da "máquina estatal" russa e, assim, a possibilidade real de, entre as suas fileiras, sair o sucessor de Putin.

Restam-nos, então, 2 hipóteses: as Forças Armadas e a Oligarquia Económica.

Em relação às Forças Armadas é uma possibilidade porque, simplesmente, em geopolítica e geoestratégia as Forças Armadas são sempre uma hipótese quando se trata de assumir o poder.

E nem precisam de uma figura de proa, alguém com visibilidade ou simpatia.

Basta-lhes a possibilidade de poder impor o seu "candidato" pela força das armas que dominam.

Assim, as Forças Armadas podem decidir, no seu seio, o sucessor de Putin, mantendo-o oculto e reservado (até para sua própria proteção) e no "momento da verdade" impor, pelas armas, com um golpe militar, mais ou menos explicito, esse mesmo candidato, assumindo o poder da Rússia.

Mas, sinceramente, embora esta hipótese tenha, sempre, de ser equacionada, não me inspira muita confiança.

As Forças Armadas Russas, como se provou no conflito da Ucrânia, estão tão decrépitas, desordenadas, divididas em facções e mal organizadas que duvido que tenham, primeiro, a capacidade de conceber e executar um plano realista de tomada de poder, em segundo porque as divisões entre as cúpulas dos 3 ramos são tão grandes que é mesmo muito improvável, mesmo com promessas de divisão de poder, influência e proveitos, que se chegasse a um acordo em relação a um indivíduo que pudesse reunir o consenso necessário para encabeçar o plano.

Depois, claro, as Forças Armadas Russas são, há décadas, um "viveiro" de intriga, denuncia, traição e engano.

Por isso, todos desconfiam de todos e quando a desconfiança é generalizada as uniões são impossíveis.

Resta-nos, então, a oligarquia económica, os "senhores do Kremlin", ou, como lhes costumo chamar, o "Grupo de Sampetersburgo".

Sinceramente, para mim, será desse núcleo que sairá o sucessor de Putin.

Em primeiro lugar porque dominam toda a economia russa, são imensamente ricos e, logo, podem comprar quase tudo, inclusive as Forças Armadas se isso for necessário.

Depois, como estão habituados a trabalhar com a economia, especialmente com a paralela, com o crime organizado transnacional, com o sistema bancário não regulado, com branqueamento de capitais e todos os mecanismos e ambientes necessários para manter (e fazer crescer) as suas colossais fortunas, são muito organizados, metódicos, tem imensos contactos tanto internos como externos e tem influência em muitos contextos fundamentais para um processo de tomada de poder (e sim, também estou a falar de reputadas e impolutas instituições financeiras do mercado regulado e de políticos "acima de qualquer suspeita" )

Ao contrário das Forças Armadas, em que as suas chefias ainda vem do tempo soviético e que estão caducas, ultrapassadas e viciadas num sistema que já não existe, os oligarcas investiram na sua formação, formaram-se no estrangeiro, tem a trabalhar para si equipas altamente capazes e eficientes no âmbito da economia, das finanças, das relações públicas.

A prova disso é que se estima que, embora a Rússia e muitos dos oligarcas estejam a ser alvo das mais duras e severas sanções económicas de que há memória, o impacto dessas medidas está pouco acima dos 2% (2,4% mais precisamente segundo dados da OECD) na economia regulada Russa.

O que isto prova?

Que a Oligarquia Russa consegue contornar todo o sistema financeiro ocidental e ainda prosperar com isso.

E, para que isso seja possível é necessário muita organização, disciplina, conhecimento e influência nos mais altos níveis da finança internacional.

Outro fator que me leva a "apostar" que o próximo sucessor de Putin sairá do Grupo de Oligarcas é que, embora (e à boa moda russa) todos estejam preparados e dispostos a trair todos a todo o momento, os oligarcas tem um "mestre" em comum e de poder incontestado: o DINHEIRO.

Todos sabem que, no momento, em que, entre eles, surgir a primeira traição, todo o sistema se desmoronará, tudo ficará em risco e, nesse ambiente, todos tem muito mais a perder do que a ganhar.

Por isso permanecem leais ao sistema, a esta "fraternidade", não por consciência, mas por interesse e por medo.

Desta forma, mais organizados, com muito poder económico, controlando as áreas chave da economia russa e unidos por um mesmo "elemento" será muito mais provável chegarem a um acordo em relação a alguém que suceda a Putin.

Se mais não for, porque esse "alguém" também estará vinculado a essa lealdade imposta, sabendo que no momento em que a quebrar perderá o apoio do grupo e, logo, o poder (e a vida também).

No entanto há ainda um elemento, que embora não muito presente, não muito expressivo, será aquele que, de facto, terá a "última palavra" em toda esta situação.

Quem?

Obviamente o KGB (agora com o nome mais simpático de FSB/SVR).

Como já disse várias vezes, Putin, antes de mais e primeiro que tudo é um "Tcheka", um KGB.

É a sua natureza, algo que ele encarnou completamente e que, atualmente, define, totalmente, a sua personalidade.

No poder fez-se rodear dos seus camaradas, também eles ex-agentes e muitos dos oligarcas são, em simultâneo, ex-KGB.

Assim, é esta estrutura que opera nas sombras, que atua nos gabinetes, que domina os corredores do Kremlin que, de facto, domina o poder na Rússia, dedicando uma lealdade absoluta ao seu senhor: Putin.

Assim, embora seja improvável que o sucessor de Putin tenha origem nos "rapazes de Lubianka", simplesmente porque o seu ambiente é a sombra, o anonimato e as suas ferramentas o ardil e manipulação, logo, detestem a política pública, ninguém assumirá o Poder na Rússia sem o seu consentimento, sem a aprovação, sem a sua "bênção".

Porque eles sabem que o verdadeiro poder está precisamente na sombra, nos jogos de bastidores, na manipulação premeditada, no calculismo frio, na estratégia impiedosa e na capacidade de gerar e alimentar o medo.

Por isso, não estranharia muito, se o sucessor de Putin já estiver escolhido (embora, o próprio, possa não saber) e que, neste preciso momento, em Lubianka, já exista um extenso ficheiro devidamente "recheado" de "pérolas" de "kompromat", isto é, de factos e provas (umas forjadas outras nem por isso) capazes de destruir o indivíduo, de o levar à humilhação pública, como aconteceu, ainda no tempo de Yeltsin e Putin "apenas" o Diretor do FSB, com o procurador-geral Yury Skuratov que teve a "brilhante" ideia de investigar a corrupção no Kremlin (imagens do procurador com duas prostitutas foram exibidas na televisão pública no telejornal das 8); ou então a uma condenação judicial por "crimes" contra o Estado como aconteceu com Mikhail Khodorkovsky, outrora o segundo homem mais rico da Rússia (logo depois de Putin) e que teve a ideia de falar em democracia, liberdade e transparência.

Foi condenado a 10 anos de prisão siberiana por "evasão fiscal".

E estes dois casos foram os mais afortunados.

Outros tiveram a infelicidade de cair de varandas ou beber "chazinhos" de polônio-210.

São somente alguns exemplos de como a verdadeira sede do Poder está em Lubianka e não no Kremlin e que não haverá sucessor russo que não passe pelo "crivo" dos senhores do kompromat.

(Dizem que um dos dossiers mais "gordos" de Kompromat na posse do FSB/SVR tem Trump escrito na capa).

Finalmente o último mistério:

quando sairá Putin de cena?

Por um lado tenho a tendência de dizer que se manterá no poder até à sua morte pois será muito difícil, tanto para ele como para o sistema abandonar o atual status quo.

Por outro lado seria muito difícil outra pessoa assumir o cargo de presidente da Rússia com Putin ainda vivo.

Mas, também, sei que Putin é demasiado calculista, inteligente e vaidoso para se manter no Poder com capacidades reduzidas, como um idoso caduco, como um velho senil.

Não estou a ver Putin a aceitar passar para o exterior essa imagem de si mesmo.

Talvez a solução seja mesmo um meio termo:

Putin retira-se, confortavelmente, para a sua modesta datcha de 1,3 mil milhões de dólares na costa do Mar Negro, longe dos olhares públicos, disfrutando dos confortos da rica velhice, mas continuando a decidir os destinos da Rússia obedientemente comunicados ao público por um Presidente leal e subserviente "plantado" no Kremlin pelo próprio Putin e devidamente "controlado" pelo SVR/FSB.

Se tivesse de fazer uma aposta seria nesta última hipótese.

Pois, estou quase certo, que a verdadeira luta pelo poder só acontecerá, de facto, depois da morte de Putin.

Outra coisa tenho quase por certo: o caracter e personalidade do próximo líder russo.

A liderança de Putin foi demasiado vincada, longa e marcante para permitir retrocessos estruturais, se mais não for num futuro próximo.

Desta forma o próximo líder, de facto, da Rússia será um "upgrade" do Presidente, talvez mesmo criado, educado e treinado pelo próprio Putin, alguém mais refinado, mais educado, mas também mais frio, mais manipulador, mais impiedoso, mais controlador, mais ditatorial.

O Kremlin nunca foi local de homens bons, cordatos e com boas intensões, mas sim o habitat dos mais brutais, dos mais impiedosos, dos mais hábeis nas "artes" da traição e da manipulação.

Por isso só sobrevive quem conseguir, pela força, dominar todos os restantes.

E esse domínio faz-se sempre pelo medo, pela chantagem, pelo sangue.

Não é por acaso que os muros do Kremlin tem a cor que tem.

Pois, acreditem numa coisa: se a China terá sempre um Imperador, a Rússia terá sempre um Czar.

Não sei o nome do próximo Czar de todas as Rússias mas temo que nos fará ter saudades do bondoso e benevolente Vladimir.

Quem viver verá!


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