O estado na Nação (mas por tópicos)
Alguns dos meus leitores, dos quais destaco o meu amigo António José Calinhas, embora se afirmem leitores assíduos e quase "fãs" dos textos que publico no Realpolitik, dizem que eu sou…. Pouco conciso…
E tem razão!!!
Ser conciso no que escrevo nunca foi uma das minhas "qualidades"!
Por isso, hoje, decidi fazer um resumo do Estado da política da nação por tópicos, sendo, assim, conciso.
Aqui vai:
CASO 1
- O governo demitiu, com junta causa, a CEO da TAP, baseando num parecer jurídico;
- O parecer jurídico em que se baseou o despedimento afinal não existe;
- A CEO da TAP, despedida por justa causa baseado no parecer que afinal não existe, abandona o cargo com a companhia área a dar, pela primeira vez desde que me lembro, resultados positivos;
CONCLUSÃO: empresas públicas que dão lucro são causa de despedimento para o atual governo.
CASO 2
- Essa mesma CEO é convidada, pelo Ministro e pelo grupo parlamentar do partido socialista, para uma reunião onde vai "combinar" as perguntas e respostas a serem feitas na comissão parlamentar de inquérito à TAP;
- "Ensaiar" depoimentos e testemunhos é tão ilegítimo, imoral e contra tudo o que se entende por correto que não precisa de ser ilegal para condenar quem organizou, participou ou sequer concordou com tal prática;
- Desvalorizar este ato é denegrir, sob todos os aspetos, as bases mais fundamentais do Estado do Direito Democrático;
- O ministro (Galamba, quem mais?) acha que isto é perfeitamente natural e que, já agora, ela só foi porque quis…
CONCLUSÃO: manipular inquéritos e depoimentos é normal!
CASO 3
- O Ministro das Infra-estruturas (João Galamba, esse mesmo!!!) despediu o seu principal adjunto (aquilo que normalmente chamamos de "braço direito") que contratou em Janeiro por este ser "incompetente" e "desobediente";
- O adjunto tenta sair do ministério com um computador com informação classificada, isto é, segredos de Estado;
- O ministro diz que ele não pode sair do ministério com o computador porque tem segredos de Estado e manda chamar a polícia para impedir que ele o faça;
- O assessor foge para a garagem;
- Fecham-lhe a garagem;
- Fica-se a saber que os adjuntos têm computadores do Estado, telemóveis do Estado, carros do Estado (ou bicicletas do Estado) mas não comandos do portão da garagem do Estado (alguém resolva isso!!!!)
- 5 (cinco!!!!!) funcionárias do ministério, com medo do assessor que está fechado na garagem, trancam-se na casa de banho com medo do assessor (que, com o todos sabem, é alto e espadaúdo!!!);
- O assessor volta da garagem;
- Desata tudo ao estalo, incluindo duas senhoras (uma delas até é assessora de imprensa);
- Sabe-se, depois, que não foi ao estalo, foi mesmo à porrada porque alguém ficou com hematomas e quando há hematomas, todos sabem, deixa de ser estalo e passa a ser, oficial e cientificamente, porrada;
- O assessor sai na mesma;
- O assessor atira a sua bicicleta contra a parede do edifício do ministério (parede exterior porque, não sei se entenderam, já tinha saído da garagem);
- O assessor devia saber que as bicicletas não voam;
- Atirar meios de transporte contra edifícios não é terrorismo?
- Alguém liga para o 112 para chamar a polícia;
- Num ministério a polícia está sempre à porta (24 por dia, 7 dias por semana, 365 por ano) por isso a polícia não aparece;
- A polícia tem toda a razão porque não se aparece quando já se lá está;
- O ministro (ou alguém) manda os "serviços secretos" atrás dele para recuperar o computador;
- O ministro lá teve o lapso de entendimento que os serviços de informações só podem ser ativados em casos de segurança nacional e estão na dependência direta do primeiro-ministro e não para andar atrás dos gajos com quem o ministro se zanga (ele zanga-se com muita gente, basta ver o Twitter do homem);
- O ministro não entende que o Estado e as suas estruturas e organizações não são "domínio" dele, ele não pode fazer o que quer, que há (ou devia haver) ordem, disciplina, rigor e organização;
- Os serviços secretos vão, recuperam o computador, mas como é ilegal fazerem apreensões (porque não tem essa competência legal) e não tem mandato judicial (que é necessário para tirar coisas a pessoas, mesmo que não sejam delas, naquelas coisas estranhas designadas "Estados de Direito Democrático") entrega o computador à Polícia Judiciária;
- A Polícia Judiciária, acho que por falta de opção, lá fica com o computador;
- O ministro no dia seguinte dá uma conferência de imprensa a dizer que tudo isto é normal, que a culpa toda é do adjunto que ele escolheu que, já agora, e que para não restem dúvidas, é e sempre foi um sacana da pior espécie;
- O Presidente da República tenta não dizer nada, depois diz alguma coisa sem sentido e, depois, fica-se a saber, manda o primeiro-ministro pôr o Ministro no olha da rua;
- Na terça-feira de manhã (tudo isto se passou na quarta anterior) o Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informação pergunta se se passa alguma coisa...;
- O primeiro-ministro, também na terça-feira de manhã (que o Estado só funciona em dias úteis e em horário de expediente), chama o ministro a São Bento;
- Passado 1 hora o ministro sai, sem tirar os olhos do telemóvel,
- O Senhor Primeiro-Ministro passa 2 horas a falar com Senhor Presidente da República pela hora da merenda;
- Pela hora da ceia vem dizer que ninguém vai ser demitido porque seria uma injustiça demitir alguém só por causa do que acabei de descrever;
- Pela hora dos digestivos o Senhor Presidente da República publica um comunicado a dizer que não concorda com nada disto;
- No dia seguinte o Senhor Primeiro Ministro vem para Braga fazer um Concelho de Ministros como se nada se tivesse passado.
CONCLUSÃO: Não sei....
CASO 4
- O Presidente da República do Brasil visita a Assembleia da República e os deputados do partido "Chega" levantam cartazes e a dizer que ele é corrupto e gritam impropérios, deputados esses que são os representantes do povo, em plena Assembleia da República a comportar-se como delinquentes arruaceiros e grunhos sem qualquer tipo de noção da mais básica educação;
- O Senhor Presidente da Assembleia da República repreende, aos gritos e dedo em riste, os deputados do dito partido a dizer que aquilo é uma vergonha e um atentado à democracia, comportando-se como um delinquente arruaceiro e grunho sem qualquer tipo de noção da mais básica educação;
- Não há porrada nem tão pouco estalos, o que, neste caso, até traria alguma dignidade à situação porque passaria a ser estúpida, ridícula e violenta e, assim, foi só estúpida e ridícula...
- Minutos depois, numa conversa com o Senhor Presidente da República o Senhor Presidente da Assembleia da República diz que o terceiro maior partido do país (segundo a votação livre e democrática do povo português) nem devia existir, quanto mais estar na Assembleia da República;
- Quando isto se tornou público Senhor Presidente da Assembleia da República deu ordens para se instaurar um inquérito para saber quem divulgou as imagens pois essa divulgação é um grave atentado aos Estado de Direito, às instituições e à democracia;
- Sobre o que disse, como disse, quando disse, a quem disse… ah! Isso não importa nada.
CONCLUSÃO: 25 de Abril sempre!!!!
CASO 5
- O governo disse que a decisão do local da construção do aeroporto de Lisboa estava tomada baseada em pareceres (acho que esses existiam) resolvendo uma questão com quase 50 anos;
- O Ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, disse que a decisão está tomada, mas esqueceu-se de comunicar a decisão ao Senhor Primeiro Ministro (ou o Senhor primeiro-ministro não leu a mensagem do WhatsApp);
- O Senhor primeiro-ministro, que está fora do país, dá ordens ao seu gabinete para emitir um comunicado de imprensa (isto é, para toda a gente saber) a afirmar que nenhuma decisão tomada, desmentindo e desautorizando, publicamente, um dos seus ministros;
- Quando o Senhor primeiro-ministro chega ao país afirma que não é nada assim, que há 2 opções e que ia discutir isso com o líder da oposição;
- O Senhor primeiro-ministro chama o Ministro a São Bento, tomam chá, o Ministro dá uma conferencia de imprensa a dizer que coisas destas acontecem, que foi uma falta de comunicação e fica tudo na mesma;
- Passado 3 meses o governo anunciou que há 9 opções para a construção do aeroporto de Lisboa (mas que já houve 14!!!).
CONCLUSÃO: Não sei...
CASO 6
- O vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, maior partido da oposição, também é cantor e lançou um videoclipe onde se "esfrega" ostensivamente na bastonário da ordem dos enfermeiros.
CONCLUSÃO: Tenham tento e vergonha na cara e tenham a noção que as atitudes de detentores de cargos públicos se refletem diretamente na dignidade desses cargos
CASO 5
- O antigo primeiro-ministro José Sócrates corre o "sério risco" de nunca ser julgado pelos crimes de que está acusado (os que sobraram da razia do Juiz Ivo Rosa) porque o processo é tão complexo, mas tão complexo, que nem vai chegar a acontecer porque a justiça não consegue cumprir os prazos que a própria definiu.
CONCLUSÃO: Naaaaaaaa!!!!!
CURIOSIDADES
- O Senhor Presidente da República não vai dissolver a Assembleia da República. Mas se for preciso dissolve a Assembleia da República;
- Da oposição…. Não se sabe. Vai lançando uns Twitters... Um dia destes alguém do governo manda os serviços de informação para os encontrar...
E para terminar com algo, de facto grave e, realmente sério:
Afinal o Benfica pode não ganhar o campeonato nacional de futebol.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não, não é a descrição do dia-a-dia de uma turma do secundário: é a descrição da vida política do nosso país.
Não comento, não analiso, não me pronuncio.
Porquê?
Porque neste blogue pretende-se analisar política, estratégia, gestão do Estado e não infantilidades, criancices, atos de indivíduos imaturos, mal-educados, ignorantes, sem qualquer noção de serviço público, de Estado, de democracia e da mais básica decência e decoro.
E, também porque até eu tenho os meus limites e recuso-me a sequer abordar certo tipo de atitudes de certo tipo de gente.
Desculpem a arrogância, mas há gente com quem me recuso a lidar!
E, agora, fora de sarcasmos e brincadeiras e assumindo o propósito deste artigo: é isto que acontece quando se pratica partidarismo e não política; é isto que acontece quando se seleciona as pessoas pela sua filiação (devoção) e não competência; é isto que acontece quando não se escolhe pelo mérito, pela atitude, pelo percurso, mas pelo clientelismo, pelas influencias, pelos carreirimos.
É isto que acontece quando se escolhe indivíduos que nunca deram provas de nada a não ser da sua atividade partidária, nunca fizeram nada de útil, de concreto, e que a única coisa que tem para mostrar é uma pilha de discursos cheias de intenções e vazios de atitudes, de soluções e realidade.
Política, a POLÍTICA, não é uma carreira, não é uma profissão: é um serviço à Pátria pelo qual se interrompe a carreira para executar.
Ninguém pode ser "político" de profissão.
Enquanto não se definir, claramente, estes princípios, teremos indivíduos como o João Galamba e o Pedro Nuno Santos e outros que tais a denegrir, desrespeitar e pôr em risco as instituições, o Estado democrático e o próprio País.
Não são os partidos dos extremos que põe em risco a democracia. Esses fazem barulho, muito, mas palavras leva-as o vento.
São indivíduos como o Galamba, o Santos, o Cabrita entre tantos outros que, não sabendo que política é servir e não ser servido, é um dever e não um privilégio, é um dar e não receber, distorcem e corrompem uma das mais elevadas e nobres atividades que um cidadão pode assumir: ser Político, servindo os seus semelhantes e a sua Pátria na persecução de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais fraterna.
Acho que é só!
Está bem assim Calinas?
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