O Espião e o Traidor de Ben Macintyre, edições Dom Quixote

14-08-2023

"Os verdadeiros heróis nunca tem estátuas" dizia Churchill. Oleg Gordievsky, coronel do KGB, é um desses heróis. Antes vive, sozinho, sob uma falsa identidade nos arredores de Londres, numa simples casa, permanentemente vigiado por agentes de segurança do MI5 (e mesmo esses não sabem quem, de facto, estão a proteger).

Gordievsky durante anos extraiu do KGB para o MI6, uma torrente sem precedentes de informações, mas, fundamentalmente, fez o ocidente entender e conseguir "acompanhar" o modo de pensar, ser e estar dos soviéticos especialmente em termos geopolíticos e geoestratégicos.

Durante anos, numa atitude sem precedentes no mundo e na história da Intelligence e Serviços de Informações, o SIS (Secret Intelligence Service, verdadeiro nome do MI6), disseminou, pelos seus aliados, informação altamente relevante e crítica para manter a segurança, a estabilidade e a paz durante o período conturbado a que chamamos "guerra fria", protegendo, sempre, de um modo, "quase" perfeito mas imensamente empenhado, a identidade da sua fonte (o que não evitou que a CIA, fiel a si própria, não metesse o "nariz" onde não era chamado e, na boa tradição americana, fizesse "asneira da grossa" quase custando a vida a este herói que tanto tinha dado ao ocidente, incluindo aos Estados Unidos).

Por sua influência evitou-se, pelo menos uma vez, uma guerra nuclear. Pelos seus conselhos Thatcher, ao contrário de todos os outros líderes ocidentais, teve a atitude correta num funeral de estado em Moscovo, iniciando uma relação de aproximação e cordialidade com a URSS que abriria a porta a Reagan que, com a orientação do espião Soviético, soube abordar Gorbatchov de modo a iniciar o "degelo" soviético.

Como refere o brilhante jornalista Ben Macintyre, autor desta obra prima da história da inteligência estratégica internacional: "Gordievsky acabou com a Guerra Fria? Não podemos dizer isso. Mas podemos afirmar, sem margem para dúvidas, que teve um papel determinante nos acontecimentos que levaram ao seu fim".

Gordievsky foi um traidor do seu país, do seu governo, quebrou o seu juramento, a todos os títulos condenáveis (muito em especial na comunidade da Intelligence). Mas não o fez por vaidade, como Kim Philby, nem por dinheiro como Aldrich Ames (culpado pelo "queimar" de Gordievsky). Fê-lo por acreditar, profundamente, nos ideais da liberdade e da democracia, no verdadeiro poder do povo pelo povo, e por querer que a sua Pátria, a sua muito amada Rússia, também partilhasse esses ideais e não vivesse no regime autocrático, repressivo e paranóico que a oprimiu durante décadas.

Como já sabem bem os que estudam a atividade e o mundo da Intelligence e das Informações Estratégicas, e como dizia um dos seus maiores vultos, John Le Carré " neste mundo os fins justificam sempre todos os meios porque falhar não é opção e o preço a pagar pelo erro é tão imenso".

"O Espião e o Traidor" é um livro brilhante, de leitura fácil, baseado nas declarações do próprio Gordievsky e em milhares de horas de pesquisa da equipa do Times, que nos conta uma das mais fantásticas, arriscadas, heróicas e decisivas histórias do século XX.

De leitura absolutamente obrigatória!

(Para os meus alunos de Intell vale por uma declaração Ex Catedra)


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