O ENIGMA TRUMP: O PODER DA INCONSTÂNCIA

14-11-2025


Muitos dizem que Donald Trump é um louco, inconsequente, irresponsável, uma pessoa sem palavra, sem carácter, sem estabilidade e que é um perigo uma pessoa como esta ser o líder de uma potência mundial.

Mas será que assim é?

A questão merece mais do que a resposta imediata e emocional que tantas vezes lhe é atribuída.

Que fique claro desde já: não simpatizo nada com a personagem. Porque, no fundo, é disso mesmo que se trata — de uma personagem cuidadosamente criada para conquistar o poder nos Estados Unidos. E conseguiu-o. A forma como o fez já está mais do que explicada e debatida: um misto de populismo, marketing agressivo, aproveitamento das redes sociais e uma capacidade notável de captar descontentamento e transformá-lo em votos.

Contudo, passados nove meses de administração Trump, sobressai uma constante: a ausência de uma constante.

E isso, só por si, é um facto impossível de ignorar.

Trump diz e contradiz-se. Avança e recua. Estabelece prazos que não cumpre, promessas que ficam no ar, ameaças que nunca mais volta a referir.

Essa errática forma de governar transforma-o numa incógnita permanente.

E como se combate alguém que não se conhece verdadeiramente? Como se constrói oposição a um líder que nunca se define por completo, que escapa a qualquer tentativa de análise, previsão ou antecipação?

O grande trunfo de Donald Trump é a sua inconstância.

Ele próprio transformou a falta de coerência numa arma política.

Ao manter-se imprevisível, deixa adversários, aliados e instituições em permanente estado de alerta.

Obriga o mundo a olhar para si.

É neste jogo de incerteza que Trump conquista espaço na geopolítica internacional. Está sempre no centro, sempre a gerar expectativa, muitas vezes medo, sobre o que dirá ou fará a seguir.

Nestes nove meses iniciais de governação, raramente cumpriu aquilo que prometeu em campanha. Recuou em quase todas as suas grandes ameaças. Não concretizou quase nada do que se propôs.

Mas não é por acaso. Trump não governa de acordo com o manual tradicional da política. Ele conduz a sua administração como conduz a sua vida pública: através do espetáculo.

O show off é a sua arma mais afiada.

Na sociedade atual, em que se acredita mais no que se vê e se ouve do que no que se prova e concretiza, esta estratégia não é apenas eficaz — é vencedora.

Trump sabe que o mediatismo é o oxigénio do poder.

Blufs sucessivos, declarações bombásticas, tweets intempestivos: cada gesto é calculado para alimentar a máquina da atenção.

E quanto mais se fala dele, mais poder ele acumula.

Os seus críticos acusam-no de vazio, de superficialidade. Mas talvez resida aí a sua maior força.

Num tempo em que a velocidade da informação é mais importante do que a profundidade da análise, quem domina o ritmo ganha a corrida.

Trump percebeu isso antes de todos.

Enquanto uns tentam compreender o que realmente pensa ou qual será o seu plano a longo prazo, ele avança para o próximo golpe de teatro.

O efeito imediato importa mais do que a coerência futura.

E assim vai sobrevivendo, contra todas as previsões de queda rápida.

Há quem veja nisto apenas irresponsabilidade. Mas a verdade é que a sua imprevisibilidade é também uma forma de poder.

Ela desarma opositores, baralha os analistas e mantém o eleitorado num misto de fascínio e medo.

Num mundo saturado de discursos previsíveis, Trump oferece o caos como espetáculo.

E, paradoxalmente, esse caos é a sua ordem.

Para quem valoriza estabilidade, esta forma de liderança é alarmante.

Mas para quem procura impacto imediato, emoção e uma narrativa constante de conflito, Trump é irresistível.

No fundo, Trump não governa um país: encena uma série interminável, em que cada episódio precisa de mais audiência do que o anterior.

A Casa Branca tornou-se palco e ele é o protagonista absoluto.

O guião é reescrito em tempo real, consoante a reação do público.

O que hoje é promessa amanhã pode ser esquecimento.

O que hoje é ameaça amanhã pode ser desmentido.

Nada se fixa, tudo flui.

E é precisamente por isso que ninguém o consegue aprisionar numa definição.

Muitos esperavam que, uma vez no poder, Trump se moderasse.

Mas enganaram-se!

Ele reforçou o personagem. Tornou-o mais gritante, mais imprevisível, mais dependente da reação do público.

Trump sabe que o poder se alimenta da perceção. E nisso é mestre.

Não se trata de ser verdadeiro ou falso, mas de ser visto e ouvido.

E enquanto conseguir isso, continuará a ser relevante, continuará a ser perigoso e continuará a ser, para muitos, irresistível.


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