ISRAEL: TERRORISMO OU AUTO-DEFESA

11-10-2024


Fez, esta semana, um ano que o Hamas realizou o bárbaro ataque a Israel, matando mais de 1000 civis, 350 militares israelitas e levando como reféns mais de 200 civis para a Faixa de Gaza.

Depois, como se costuma dizer, o resto é história, uma história sangrenta, deplorável e contínua, que nos choca todos os dias, em que ambos os lados estão muito mais preocupados em vencer pela atrocidade do que em encontrar uma solução que traga uma trégua efetiva ao conflito.

Milhões de deslocados, milhares de mortes, a Faixa de Gaza completamente arrasada, incluindo escolas e hospitais onde, diga-se em abono da verdade, o Hamas esconde as suas estruturas militares.

Ainda há umas semanas, Israel, através dos seus serviços secretos, desencadeou um ataque de infiltração por meio de pagers e rádios armadilhados, que provocou grandes baixas nas fileiras do Hamas.

Durante o ano, muitos importantes líderes desta organização terrorista foram também aniquilados das mais diversas formas.

Tais ataques desencadeiam reações violentas do Hamas, que ataca o território israelita utilizando armamento fornecido pelo seu grande aliado: o Irão.

E, desta forma, dia a dia, semana a semana, passou-se um ano sem que nada se resolvesse.

Mas fica uma questão: está esta guerra a ser legítima?

Do lado do Hamas, não restam dúvidas nem questões.

Trata-se de um grupo terrorista, com fortes ligações ao crime organizado, que está a ser utilizado como "proxy" do Irão para atacar o Estado de Israel e desestabilizar a região, o que, convenhamos, também é conveniente para a Rússia e para a China.

O Hamas, de igual modo, é o primeiro e principal culpado de toda esta situação, pois desencadeou os ataques de 7 de outubro, origem de tudo.

Nenhuma intenção do Hamas é legítima.

As suas ações não promovem a causa palestiniana, não beneficiam a resolução da disputa, não protegem a população, nem dignificam a Palestina e todos os que, legitimamente, lutam pela autodeterminação da nação árabe.

Para que não restem dúvidas, sendo eu alguém que muito simpatiza com Israel e o povo judeu, apoio, sem reservas e incondicionalmente, a existência de dois Estados: um israelita e outro palestiniano, tal como foi definido nos acordos de 1948.

Para mim, não há nações nem povos "eleitos".

Todos nascemos debaixo do mesmo céu e, assim, somos todos iguais.

Mas a reposição da justiça nas terras do Jordão não se faz pelo medo, pelo terror ou pelas armas, mas sim com diálogo, entendimentos e compromissos.

E é isso que tem faltado ao longo destes últimos 76 anos.

Se do lado do Hamas a questão é clara e límpida, não o é do lado de Israel.

Sendo Israel um Estado soberano, membro efetivo da Organização das Nações Unidas, parceiro incondicional do Ocidente, que se baseia numa constituição, na lei e na democracia plural e universal, pode, em rigor, praticar terrorismo?

Israel tem afirmado que, tendo sido atacado, alvo de um ataque terrorista, tem o direito à legítima defesa e que todas as suas ações se enquadram nesse direito, reconhecido por todos os países.

Concordo plenamente com o direito à legítima defesa, mas, sinceramente, acho que o Estado de Israel tem cometido atos de terrorismo.

Primeiro, porque sendo Israel um Estado de Direito, tem de submeter-se à lei e às convenções internacionais, tais como as Convenções de Genebra e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Muitas das suas ações são violações frontais e explícitas dos princípios consagrados nestes documentos.

Em segundo lugar, o que define o terrorismo não são os métodos nem quem os pratica, mas sim a intenção última dos seus ataques. É terrorismo todo o ato, independentemente da forma, meio ou autor, que provoca medo generalizado nas populações.

Um professor meu dizia que "o terrorismo não se mede por aqueles que mata ou pelo que destrói, mas por aqueles que aterroriza."

E muitas ações que Israel tem empreendido no último ano têm o claro e explícito objetivo de gerar terror nas populações.

A intenção, sabe-se, até pode ser legítima: as populações palestinianas, ao entenderem os efeitos das ações do Hamas, deixariam de apoiar o grupo.

Mas essa intenção, para além de ter na prática o efeito oposto, não é legal, nem legítima.

Israel e a comunidade internacional têm de entender, por muito que nos custe, que, para Israel, sendo um Estado soberano, as regras não são as mesmas que para o Hamas, que é um grupo terrorista.

Afinal, é isso (e quase só isso) que os distingue.

Desta forma, Israel tem, sem dúvida nenhuma, o direito à legítima defesa e o direito de punir os culpados pelos ataques de 7 de outubro, mas não tem o direito de o fazer por todos os meios.

No contexto da lei e do direito internacional, por mais nobres e legítimos que sejam os fins, há meios que nunca, jamais, em tempo algum, podem ser utilizados.

Desta forma, resta-nos ser realistas.

O Hamas não chegará a acordos e concessões, pois depende da guerra para sobreviver, financiar-se e "prosperar".

Por isso, é um grupo terrorista, mais próximo de um grupo de crime organizado do que de um grupo terrorista (mas isso é outro assunto que desenvolveremos mais tarde). Nunca chegarão a um acordo, nem mesmo aqueles que seriam muito favoráveis ao povo e à causa palestiniana.

Os grupos terroristas, todos sem exceção, vivem para o conflito, no conflito e pelo conflito.

Sem conflito, não existem, extinguem-se.

Não há terrorismo pacífico!

Mas isso não legitima nem desculpa Israel de fazer o mesmo.

Israel e a comunidade internacional têm de encontrar uma solução legal e legítima para tomar posse dos territórios palestinianos, impor a paz, a ordem e a lei, e criar um governo legítimo para o Estado soberano da Palestina.

É óbvio que tudo isto não se vai conseguir apenas com discursos e boas intenções.

Implicará medidas musculadas e agressivas contra elementos e ativos do Hamas, dos seus meios de financiamento, dos seus fornecedores e das suas cadeias logísticas e operacionais.

Implicará ações concretas, especialmente ao nível da inteligência tática, mas também uma boa estratégia de comunicação junto do povo palestiniano para que entendam que o Hamas não os defende, não os representa, não lhes interessa.

Muito pelo contrário!

Mas tudo isto deverá ser planeado, pensado, com sangue-frio, coerência e estabilidade, não reagindo às naturais, óbvias e mais do que certas provocações do Hamas e dos grupos aliados, e sempre, mas sempre, no mais estrito respeito pela lei internacional e pelos direitos humanos.

Caso contrário, Israel perderá a credibilidade enquanto Estado de Direito, dando força aos seus opositores, enfraquecendo os seus aliados e mantendo a instabilidade numa zona do globo que precisa urgentemente de ser estabilizada, pois esta situação está a afetar todo o contexto geopolítico e geoestratégico global.

Mas, mais do que tudo, é preciso terminar o conflito, acabar com a chacina e alcançar a paz.