FRANCESINHA: Os Dogmas e as Leis Finais, Carago!
O REALPOLITIK vai de férias até inicio de Setembro!
E assim, em jeito de relaxamento, deixo-vos um texto que nada tem a ver com política, com geoestratégia, com guerra, nem com manipulações e Inteligência Estratégica!
Deixo-vos com algo para relaxarem, para terem prazer!
Porque, convenhamos, se os textos que fui publicando ao longo deste ano nos ensinou algo, é que, em suma, somos uns privilegiados e precisamos de ser mais gratos pela vida, que, não sendo perfeita, é muito melhor do que a da maioria da população mundial e vivê-la, tirar dela partido, usufruir dos prazeres que ela nos oferece, constitui quase uma obrigação.
Boas férias a todos!
Em Setembro voltaremos!
FRANCESINHA: Os Dogmas e as Leis Finais, Carago!
Eu sou dos bons tempos em que só a malta do Norte sabia o que era uma francesinha!
Eu sou do tempo em que só os snack-bares do Norte, mais precisamente da Invicta e alguns poucos dos arrabaldes, serviam francesinhas.
Mas, agora, oh tempos modernos, TODA a gente acha que sabe, acha que gosta e acha que serve francesinhas! Até em Lisboa, Senhores!, em Lisboa dizem que há "boas" francesinhas!! Os MOUROS!!!!!
Isto, de facto, passou os limites da pouca vergonha!
E andam amigos meus, alunos, colegas, sempre a dizer-me "ali é que há uma boa francesinha", "onde se come uma boa francesinha?", "gosto muito daquela francesinha".
Lembro-me de, na Madeira, no primeiro dia de aulas do High Degree em Gestão de Emergências da ISO-SEC, os meus alunos arrastaram-me para um café para saber se a francesinha dali era boa ou não!!! Madeira!!!! A Ilha!!!! (a francesinha até era francesinha, até era boa, pois era feita por um murcão de Matosinhos que se enrabichou por uma insular e lá foi ele desterrado, o pobre).
Então, para que conste e se documente, para que se grave em pedra, para que permaneça por milénios, profiro, solenemente, a minha declaração ex cátedra sobre a francesinha que, logo, se deve tornar dogma de fé (eu sou assim como o Papa: ainda ontem vesti uma t-shirt branca e tudo, e, no outro dia, estive assim uma boa meia hora a dizer, Aih meu Deus, aih Jesus, aih meu Deus!).
Então, para que conste:
A Francesinha foi criada pelo Daniel em 1952 no Snack-Bar "A Regaleira" no Porto, ali quem desce do Rivoli (na praça D. João I) para a Brasileira, isto é, na Rua do Bonjardim, mesmo em frente à loja de artigos Esotéricos. Ora, à época a Regaleira era um snack-bar (agora todo moderno mas com imensas fotografias dos seus primórdios), propriedade do Sr. Augusto, que ficava aberto até às tantas, e alimentava as bocas famintas dos moços que, às 3 da manhã, vinham do Rivoli, onde, visto isso, aos fins de semana, havia umas coisas chamadas de "Bailes Dançantes" que era o único sitio onde se podiam ver (e engatar) moçoilas em termos.
Como na altura aquilo era só beijinhos e mãos dadas, e ainda não tinha aberto nem o Havana, o Flamingo ou o Parque de estacionamento atrás da Petrogal (a malta do norte sabe do que estou a falar, os outros vão ao google), as miúdas iam para casa e ficavam os moços que, ao menos, a fome do estômago podiam saciar na Regaleira.
Cheios de rissóis, panados e pregos no pão, lá ameaçavam o Daniel que, se não lhes desse de comer como devia ser, partiam aquilo tudo e ainda sobrava para lhe partir a boca (que é, como aqui no norte, se pede por favor com jeitinho).
O moço, o pobre, acabado de regressar de França de uma aventura de emigração fracassada, lá decidiu fazer o croque monsieur, uma sandwich lá dos franciús que consiste basicamente numa tosta mista mas coberta de queijo derretido.
Olha! E a malta até gostou!
Mas depois... aquilo não é sustento para um homem do norte. Especialmente depois de passar a noite toda a dançar músicas do Tony de Matos, metido dentro de um fato, gravata até aos gorgomilos, no roça-roça psicológico (às vezes, com MUITA sorte, ali uns 0,3 milésimos de segundos de mão na coxa) e levar só um beijinho fugido e um olhar de promessa a cumprir só depois dos devidos esponsais!
Era preciso mais, era preciso "sustância", que isto só de fiambre e queijo é lá para os avecs que não sabem o que é vida. E o Daniel, olhem.... começou a meter restos na "sandes"! Umas salchichas frescas que ninguém comia, uma linguiça fresca que tinha sobrada dos finos da tarde, uma fatia de carne de porco assada do almoço, uma mortadela... e lá foi crescendo... e a Malta a gostar! Aquilo estava bom! Ah porra, estava!
Mas estava seco.... Ora, àquela hora ir buscar molho de bifana à Konga era chato, e ainda são uns 800 metros sempre a subir...(um dia destes temos que falar da Konga).
E, tendo como base o molho de carne, o pobre Daniel lá foi pondo e tirando até que...
Oh Moço do Cara$#$%! que é mesmo isto, avec do raio, que ainda te dou um beijo, meu filho da pu#$$#$#a!!!!
E os murcões agora até saiam mais cedo, até deixavam as moças a dançar sozinhas, só para comer a "sandes da Regaleira".
Mas coisa que é boa, tem de ter nome bom! "Sandes da Regaleira...?" o Sr. Augusto gostava (fazia publicidade ao estabelecimento) mas mais ninguém gostava. Era preciso assim um nome.... à norte. Ora, o molho da francesinha é picante (sim, é mesmo, se não gostam de molho de francesinha picante, olha, bebam um copinho de leite com bolacha de água sal, seus...), e, por aqueles dias, estavam a chegar umas saias da frança, que as moças assim mais atrevidotas estavam a usar, que eram curtas como nunca se tinham visto (a minha mãe, claro! usava).
E isso, era, picante, que é como aqui no norte chamamos a tudo que nos põe de tenda armada e não podemos dizer "que TUSA!!!!" porque ou está a mãe, ou as irmãs, ou a avó ou o padre ou, então, todos, que é ao domingo depois da missa.
Se a "sandes da Regaleira" era picante e as miúdas com as saias francesas também eram, chama-se "Francesinha"! E foi assim que foi baptizada a coisa (versão confirmada pelo Sr. Augusto).
Então, a francesinha começou a ser copiada, primeiro ali à volta, depois por toda a Invicta, depois por Gaia, Matosinhos, e, agora, pela porra do país todo que também acham que são gente.
Claro que uns foram ponto, outros tirando, outros dando cabo de tudo e, hoje, poucas são as pessoas que sabem o que é, de facto, uma Francesinha.
Até podem gostar mais das variações, até podem apreciar mais as adaptações, mas, francesinha original segue alguns dogmas que passo a enunciar:
- É feita em molete, isto é, um pão pequeno, de trigo ou mistura com centeio, fresco e mole que nos foi deixado pelos franceses durante as invasões antes de os mandarmos para a terra deles debaixo de porrada. Por isso, não, não há aqui pão de forma. É molete. É por isso que quando ouvirem um Tripeiro dizer que emburcalhou 3 francesinhas não é só por ele ser um alarve e comer como um urso (que são qualidades e virtudes que, de facto, nos assistem a todos aqui no norte). As francesinhas aqui são mesmo pequenas;
- Leva uma fatia de lombo de porco assado. Por isso, não, não leva bife de vitela ou de novilho que isso é para lingrinhas ou para quando estamos doentes do fígado;
- Leva salchicha e linguiça, MAS SÃO FRESCAS! Não há aqui tretas em lata, nem alemãs, nem o carago! Frescas! Frescas! Ouviram bem ou estão moucos? FRESCAS! Grelhadas na chapa com manteiga, depois abertas, depois voltadas a grelhar até parecerem uma espécie de hambúrguer rico e gorduroso. Frescas! Se alguém vos servir uma Francesinha com salchichas de lata e linguiça de pacote tem a minha autorização de pegar naquilo a que estão a chamar Francesinha e a meter, com prato e tudo... isso... já entenderam, assim até escachar as amígdalas e bater no céu da boca!
- É picante! Não muito, só ali a puxar ao fino, mas é marcadamente picante. E a base é simples, só um molho de carne com cerveja, whisky e molho Worcestershire apurado durante horas, mas liquido. Aih que eu não gosto de picante! Aih, eu gosto mais com natas! Aih que eu sou Vegan, Aih que eu acho o molho muito forte! Respeito! Todos tem direito à sua opinião e a minha é que se não gostam não comam e mais valia darem uma cabeçada num poste a ver se acordam para a vida!!!!
- Não leva ovo!!! Isso só pode ter sido invenção de um mouro que confundiu aquilo com um bitoque, só pode! Mas leva um camarão, descascado, entre o pão e a camada de queijo que a cobre. É assim um clitóris de maresia numa vulva fumegante de carnes (e esta?!!! Bem mandada, eih?)
- Deve ser servida já com molho! O molho deve ser colocado logo que a francesinha sai do forno o que vai fazer com que o queijo se mantenha derretido. Se assim não for o queijo começa a solidificar e fica como borracha. Aih que eu gosto de pôr o molho ao meu gosto! Olha: a tua estupidez e burrice também te foi posta logo que nasceste e andas aí!
- Deve ser acompanhada com fino e da SUPER BOCK, a milagrosa água termal de Leça do Bálio. Se pedem coisas tipo "Sagres" (que deus me perdoe ter escrito esta palavra herética) ou outras beberagens indistintas e horrendas, estão a pedir para ficarem sem dentes na boca! Claro que nem pensar, o supremo ultraje do "refrigerante". Não há aqui nem sumois, nem águas, nem fantas, nem mariquices dessas! Fino! Unicamente e só! Lembro-me de uma distinta Senhora que foi insultada, precisamente na Regaleira, porque teve a brilhante ideia de pedir uma Coca-Cola zero. Levou com um bom palavrão nortenho para aprender e mudou logo de ideias! Só não lhe bateram e a expulsaram porque estava comigo e eu sou da casa.
- Deve ser acompanhada de batatas fritas em rodelas, fritas na hora. Ensopam melhor no molho. Ok, ok, lá podem ser fritas aos palitos... não é a mesma coisa, mas... não é uma heresia...
E estas são as básicas características de uma Francesinha! Não é de uma boa Francesinha, não é da melhor francesinha. Simplesmente de uma Francesinha. Se não for assim... bom, pode ser parecido, pode até saber bem, mas, de facto, não é uma Francesinha.
Onde eu a como?
Primeiro e antes de mais, como é obvio, na Regaleira.
Mas há 6 sítios em que acho uma honra comer a nossa Francesinha (embora, nos 6, e infelizmente, se tenham rendido à pressão do publico para o pão de forma porque a maior parte das pessoas começou a comê-la como refeição e não como snack). Na CUFRA, na Avenida da Boa Vista; no Afonso, na Rua da Torrinha e no Requinte, na Rua do Godinho, em Matosinhos. O Capa Negra... bom... digamos que se anda a "desvirtuar" um pouco... mas ainda vale a pena. Na Cervejaria Convívio, no Bom Sucesso, também é excelente e, para além do mais, a favorita da minha mãe, logo, se mais não fosse só por isso, brutal. O Bufete Fase, agora com mais mesas, na Rua da Santa Catarina também se assume como um "Templo" do que é, de facto, uma Francesinha.
Depois há outros sítios em que se come muito decentemente... Mas estes são assim os templos da perfeita Francesinha.
E não!!!! Não!!!!! Definitivamente a Taberna Belga em Braga NÃO é um deles! Se acham aquilo uma Francesinha é porque não fazem a mais remota e pálida ideia do que é, de facto, uma Francesinha! Vão aprender ou façam um transplante de palato que esse já era ou nunca foi. Ou mandem-se de cabeça do tabuleiro superior da Ponte Dom Luís que serve bem para pessoas como vocês!
E é isto....
Uns últimos conselhos!
Tentem comer a francesinha como snack e não como refeição. Comam-na ao final da noite, pelas 3 da manhã, depois de beber uns bons canecos. Foi a essa hora que ela nasceu e é a essa hora que ela sabe, de facto, bem.
Comam-na entre amigos. A Francesinha não é coisa de jantar ou almoço de negócios ou, muito menos, de jantar romântico. É coisa para ser comida com a malta, entre a malta, com brindes, risos, molho a salpicar para as camisas, abraços e palavrões.
Comam-na no Porto, na minha Invicta. Só aqui ela sabe bem, aqui, na terra onde nasceu, entre ruas escuras e os pináculos das igrejas, entre esta gente que a tem por sua e de quem ela é, de facto, pertença. E depois andem pelas nossas ruas, falem com as nossas gentes, aprendam alguns palavrões e aproveitem e comam mais algumas das muito saudáveis iguarias que temos por esta cidade como os cachorrinhos da Batalha, as bifanas da Konga, as Sandes de Pernil e queijo do Guedes ou as tripas da Casa Aleixo (acalmem a passarinha que vamos falar de todas).
Mas, fundamentalmente, apreciem, gozem, lambusem-se!
Comam-na com gosto, sem remorsos calóricos, comam-na com prazer!
E, bom proveito, carago!
Nota do editor: foram retiradas deste texto 457867 palavras consideradas vernáculo grosseiro e ofensivo, extremamente agressivo, de índole xenófoba, sexista, homofóbica e discriminatória. Pelas que nos escaparam, pedimos desculpas.