EXTREMA-DIREITA NA EUROPA: UM RISCO?
O ressurgimento da extrema-direita na Europa é um fenómeno complexo que tem suscitado preocupações e debates nos últimos anos por todo o Ocidente e não só.
Da Europa aos Estados Unidos, da Rússia ao Brasil ou Argentina, o tema tem sido recorrente como uma ameaça presente, crescente e preocupante.
Sempre que há eleições ou qualquer ínfimo sinal de instabilidade, os partidos do "arco do poder", isto é, que, normalmente, em sistema rotativo, são eleitos para governar, ameaçam com o aumento da extrema-direita, com os seus populismos, radicalismos e o apoio a ações e políticas que atacam, direta e frontalmente, os mais básicos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos promovendo a segregação racial, os nacionalismos, sendo contra a igualdade de género, de credo, de ideologia, de orientação sexual.
Mas, antes e primeiro que tudo, vamos responder a uma questão que raras pessoas, de facto e com seriedade, se puseram:
O que é, realmente, a extrema-direita?
A extrema-direita é um termo usado para descrever uma série de ideologias e movimentos políticos que geralmente são caracterizados por posições políticas, sociais e económicas que são consideradas extremamente conservadoras, autoritárias e, em alguns casos, nacionalistas, com uma base ideológica quase sempre insustentada para não dizer inexistente.
Digamos que é um "saco" em que se mete tudo o que não é de "extrema-esquerda", isto é, que afirma seguir os ideais do marxismo, mas, mesmo assim, é extremo.
Reparem que ao que normalmente chamamos de "Nazismo" e que, unanimemente, consideramos de extrema-direita, em si e per si, afirma-se "nacional-socialismo".
E o socialismo está longe de ser de direita.
Aliás, muitas das ideias expressas no Mein Kampf de Adolf Hitler, onde se definem, claramente, as bases do Nacional Socialismo Alemão, estão mais próximas do marxismo do que do liberalismo que se assume ser a ideologia base do que se define por direita.
No entanto, podemos definir algumas características transversais aos movimentos que se assumem como de extrema-direita.
O Nacionalismo extremo é o primeiro deles. Muitos grupos de extrema-direita enfatizam a importância da identidade nacional e defendem políticas que visam proteger a cultura, tradições e valores nacionais. Isto pode incluir uma oposição a influências culturais estrangeiras e uma ênfase na preservação da homogeneidade étnica.
O Autoritarismo também é, muitas vezes, assumido como uma característica da extrema-direita. Estes movimentos tendem a apoiar estruturas governamentais fortes e centralizadas, muitas vezes com líderes carismáticos ou autoritários que, não raras vezes, personificam o próprio poder. Por isso raros são os movimentos de extrema-direita que sobrevivem aos seus fundadores. A autoridade do Estado é muitas vezes vista como necessária para manter a ordem social e preservar os valores tradicionais.
Mais atualmente nota-se uma atitude do Antiglobalismo nos movimentos de extrema-direita, que se opõe frequentemente à globalização, argumentando que esta ameaça a soberania nacional e enfraquece as identidades culturais. Isto pode manifestar-se em oposição a acordos comerciais internacionais, organizações supranacionais e movimentos migratórios.
Estes movimentos apoiam, também, o conservadorismo social assumindo posições sociais conservadoras, incluindo a oposição a questões como direitos LGBTI+, o aborto e a igualdade de género.
Muitos grupos de extrema-direita defendem valores tradicionais e religiosos, indo, muitas vezes, buscar o seu pendor ideológico (que, ao contrário da extrema-esquerda, não tem) a textos religiosos ou doutrinas confecionais, obviamente, na sua visão mais ortodoxa e conservadora.
A Xenofobia e o racismo caracterizam algumas facções de extrema-direita que assumem atitudes xenófobas e racistas, que podem traduzir-se em políticas anti-imigração e discriminação com base na etnia.
São, invariavelmente populistas pois tendem a apelar para as preocupações e frustrações da população, muitas vezes adotando retórica populista para mobilizar apoio, o que inclui, sempre, críticas ferozes às elites políticas e económicas.
Os grupos de extrema-direita podem mostrar hostilidade para com minorias étnicas, religiosas ou outras, vendo-as como uma ameaça à coesão social ou à identidade nacional.
É importante referir, mais uma vez, que o termo "extrema-direita" é amplo e não capta todas as nuances e variações dentro deste espectro político.
Além disso, diferentes contextos culturais e políticos podem influenciar as características específicas dos movimentos de extrema-direita em diferentes regiões do mundo.
Mas, há, de facto, uma ameaça da extrema-direita na Europa (e mesmo no mundo)?
Alguns sinais até podem indicar que há.
Embora seja importante notar que a situação política pode variar de país para país, surgiram alguns temas e padrões comuns, dando origem a uma discussão mais ampla sobre o papel e a influência da extrema-direita no continente europeu.
Em primeiro lugar, para compreender o possível ressurgimento da extrema-direita na Europa, é crucial considerar o contexto histórico.
Muitos países europeus têm memórias históricas de regimes autoritários e nacionalistas, como o nazismo na Alemanha ou o fascismo em Itália, assim como Estado Novo em Portugal e nas suas ex-colónias ou mesmo o Regime Militar no Brasil. Estas experiências passadas influenciam as sensibilidades políticas e a reação da sociedade aos movimentos políticos extremistas.
Neste sentido pode-se estar a lidar com 2 fenómenos que podem potenciar estes movimentos.
Por um lado, algum saudosismo dos mais conservadores que, perante alguns fenómenos contemporâneos, especialmente de insegurança e empobrecimento, podem ser levados a defender que a opressão é melhor que a insegurança e a falta da liberdade preferível à pobreza.
Outro fenómeno é o esbatimento histórico e geracional.
As novas gerações não sabem como é viver sem liberdade de expressão, de movimento, com polícia política, com opressão indiscriminada. Por isso, sem essa "memória" e sem quem os faça "recordar", é fácil ceder a argumentos populistas e demagogos que os conduzem ao extremismo e radicalismo.
Também as crises económicas e sociais criam um terreno fértil para o crescimento de movimentos extremistas.
O aumento do desemprego, a desigualdade económica e a perceção de que os sistemas políticos tradicionais não estão a abordar eficazmente estas questões podem levar parte da população a procurar soluções em movimentos radicais.
A agravar este argumento a questão da imigração tem sido um tema central nas discussões sobre o ressurgimento da extrema-direita.
O aumento dos fluxos migratórios, frequentemente associado a crises humanitárias noutras regiões do mundo, alimenta o sentimento anti-imigração.
Claro que o argumento é falacioso, em especial no ocidente, em que a mão de obra dos emigrantes é fundamental para manter as nações a funcionar.
Os emigrantes fazem o que os nacionais se recusam a fazer a preços que os nacionais se recusariam a aceitar.
No entanto os movimentos extremistas nunca referem esta evidencia óbvia e desumana.
Obviamente o crescente descontentamento com a União Europeia (UE) tem sido um catalisador para o crescimento de movimentos populistas e de extrema-direita em alguns países.
As críticas à burocracia, a perceção da perda de soberania e a perceção das desigualdades entre os países membros contribuem, em muito, para apoiar os líderes e os partidos políticos que defendem uma saída da UE ou uma reconfiguração significativa da União.
Também as mudanças culturais, como avanços nos direitos LGBTQI+, movimentos feministas e uma sociedade mais multicultural, geram resistência em alguns setores mais conservadores da população. A extrema-direita, em alguns casos, apresenta-se como defensora dos valores tradicionais e procura capitalizar o desconforto gerado por estas mudanças.
Tudo isto tem sido muito potenciado pelas novas tecnologias. Em especial as redes sociais desempenham um papel crucial na divulgação de ideias políticas. Os movimentos de extrema-direita usam, frequente e muito eficazmente, plataformas online para promover as suas agendas, conectar-se com seguidores e espalhar desinformação.
Isso amplia, em muito, a influência desses grupos, especialmente entre os jovens.
Em resumo, embora o ressurgimento da extrema-direita na Europa seja um fenómeno multifacetado e variado, é evidente que vários fatores estão a contribuir para o seu crescimento.
A compreensão destes fatores é fundamental para desenvolver estratégias de atenuação eficazes e promover sociedades mais inclusivas e resilientes.
Por isso tudo nos indica que, de facto, há um ressurgimento da extrema-direita na Europa, ou mesmo no ocidente como um todo e que ameaça, internamente, todo o sistema político e democrático.
Mas o pior é que não há.
Acredito, piamente, que as fações extremas, tanto à direita como à esquerda, continuam idênticas a outros períodos da história, talvez um pouco mais numerosas (mas não muito), mas muito mais visíveis devido às redes sociais e a muito do "jornalixo" que agora tanto se faz e tanto vende (embora ninguém veja, ninguém leia, todos digam mal).
O que há é um aumento galopante do desinteresse e do alheamento político.
E, como dizia Platão "O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam."
E os extremistas interessam-se em muito!!!
Os extremistas não se abstém, os extremistas votam e conduzem outros a votar com eles e como eles, os extremistas vão para as ruas e convencem, manipulam, fazem propaganda.
Os extremistas ocupam o vazio deixado livre pela maioria apática que tomou a democracia, a liberdade, a liberdade de expressão, o multiculturalismo e a pluralidade ideologia como factos garantidos, inatacáveis e perpétuos.
Por isso, em sistemas baseados na representatividade, enquanto a minoria fica em casa nos dias de eleições, a minoria, que vai votar, toda, transforma-se em maioria dos votos expressos, e eis que os poucos se tornam muitos, o residual se torna poder e a exceção se impõe como regra.
Assim, e concluindo, devemos combater os extremismos, tanto à esquerda como à direita, mas, principalmente, o que devemos combater é a apatia política, o desinteresse pela coisa pública, o alheamento da causa comum.
Porque só há um modo de combater os extremistas da tiraria: é sermos extremistas da liberdade.
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