MORALIDADE TÓXICA
O VENENO SILENCIOSO QUE CORRÓI OS ALICERCES DA SOCIEDADE !
Talvez por vício de formação e também profissional, tento entender tudo. Mesmo o que mais me desgosta, mesmo o que me repudia, mesmo o que me enoja. Ou, melhor, talvez tente entender, com mais afinco, precisamente o que me repele. Detesto ser movido pelas emoções. Acho que a racionalidade é o garante supremo da minha e da nossa Humanidade. E, como não há emoção mais forte que a repulsa, tendo a racionalizar tudo o que me afeta negativamente.
E nada me afeta mais que o Moralismo.
Entendo como o Moralismo o ato de, algumas pessoas, tentarem impor, ou imporem mesmo, a sua visão do mundo, o seu modo de vida, os seus conceitos, as suas crenças, a sua fé. Moralismo é quando alguém condena outro alguém por não viver segundo os seus padrões.
O que provoca, então, a Moralismo?
O que leva as pessoas a serem "moralistas"?
Cheguei a algumas conclusões. Serão válidas ou não?
Não sei, mas são as minhas.
O primeiro fator acho que é a mediocridade. Indo um pouco (ou mesmo muito), contra o politicamente correto do momento, acredito que há pessoas mais capazes, mais inteligentes do que outras. É a ordem natural das coisas. Em todas as espécies há os vencedores e os vencidos, os que prosperam e os que fracassam, os que contribuem para a evolução e os que estagnam essa própria evolução. Na história humana temos muitos exemplos dos mais capazes: foram aquelas que conseguiram, para todos, o nível de evolução de que hoje usufruímos. Da física à medicina, da química às artes, da tecnologia às ciências humanas, nós devemos o que somos aos mais capazes entre nós. E não há problema nenhum nisso. Acho que assumimos que nem todos podemos ser Pasteur ou Curri, nem todos podemos ser Newton ou Einstein. Claro que não! Bom... há alguns que não concordam comigo, muitos aliás. Há, e sempre houve, uma corrente de pensamento que se opôs, firmemente, a toda e qualquer descoberta, a toda e qualquer conquista, a toda e qualquer evolução. Em alguns períodos da história essa corrente esteve oficializada e organizada, como nos tempos da Inquisição ou das Censuras Comunistas e Fascistas. Noutros períodos está latente...como hoje em dia. Há pessoas que não admitem, não concebem, não entendem porque é que não podem ser elas, e não outros, a ter as ideias, a fazer as descobertas, a criar a evolução. São os medíocres, que não sendo capazes acham que mais ninguém, devia ser capaz.
Isto leva-me a outra questão. Mas porquê?
O que me leva a outra conclusão.
Para além da natural inveja mesquinha de todos os medíocres há ainda o medo.
O medíocre não entende a evolução, não entende o progresso, não entende a descoberta e, como não a entende, teme-a. Como não é ele a liderar, teme o que lhe pode acontecer, mais, teme que a sua mediocridade seja exposta e reconhecida pelos demais. Logo, é sempre contra tudo que faz o mundo e a sociedade evoluir. Assim foi com Galileu, assim foi com Da Vinci, assim foi com todos os grandes descobridores. Todos os mais capazes foram pressionados e mesmo condenados pelos medíocres para não fazerem, para não descobrirem, para não evoluirem. Todas as grandes mulheres e homens foram ou tentaram ser travados em nome da Moralidade, pelos moralistas, pelos medíocres que também são cobardes, que também são invejosos.
Por último acredito que toda a moral é ignorante. Ignorante na medida que não sabe nem imagina a ordem das coisas, não se assume como humilde em relação à magnificência do universo, não vê na ciência o caminho para a verdadeira descoberta, não procura no conhecimento o rumo para as suas questões. Por isso quase todas as moralidades escudam-se em vontades e leis divinas, em mandamentos e escrituras, em tradições e ditames que, sendo na sua génese dogmáticas, são, por si só, inquestionáveis. E, se são inquestionáveis, não só não podem ser postas em causa, como os moralistas, como medíocres e cobardes que são, não tem a necessidade de explicar ou de defender.
Sendo assim, então, uma questão resta: porque é que a moralidade se impõe com tanta eficiência e tanto poder ao longo dos tempos?
Porque são muitos, são imensos, e são tantos que, ao longo da história, pelo número, conseguiram o domínio das instituições. Das Religiões aos Estados, das empresas às organizações, cada vez mais, vemos moralistas a dominar. E dominam pela mediocridade, pela inveja, pela cobardia e pela ignorância. Que, convenhamos, é um ótimo método de domínio. Não há nada mais eficaz que moralistas a dominar outros moralistas.
E esses muitos em vez de, humildemente, agradecer aos melhores de nós por nos trazerem a evolução, o progresso e conquista, tentam, a todo o custo, retrair tudo isso, condenando, ameaçando, injuriando, caluniando.
E isso leva-me à minha última conclusão: todo o moralista é arrogante.
É arrogante por não ser humilde e agradecido por aqueles que põe o seu talento, o seu conhecimento, as suas competências e o seu esforço ao serviço dos outros. Mas também é arrogante por, ao ser medíocre, cobarde, invejoso e ignorante, impor o seu modo de ser e de viver aos outros, condenando, baseado na força bruta dos números e na inquestionabilidade divina dos seus conceitos dogmáticos.
Assim toda a moralidade é medíocre, toda a moralidade é cobarde, toda a moralidade é invejosa, toda a moralidade é ignorante e toda a moralidade é arrogante.
O que fazer?
Somente uma coisa: todos devemos ser, forte e decididamente, contra qualquer tipo de moralidade. Todos devemos afirmar que só há uma coisa inquestionável: a liberdade total e absoluta de todos os Seres Humanos baseados na fraternidade e igualdade que a todos nos deve unir. Todos devemos afirmar e defender que ninguém, mas ninguém, nos pode impor como vivemos, o que pensamos e o que fazemos, que cada um pode decidir, livremente, como vive, com quem vive, para que vive, que todos somos livres sobre este céu e que ninguém pode condenar ou discriminar outro Ser Humano por exercer o seu legitimo direito à liberdade.
Todos temos que afirmar que todo o moralista é um opressor, que todo o moralista é um tirano, que todo o moralista é a antítese do que é ser, de facto, Homem.
E que não há dogma, divindade ou potestade que isso altere.
Temos de afirmar que nós somos os construtores do nosso destino, somos senhores do nosso futuro, somos os obreiros da herança que deixaremos aos nossos filhos e, assim, não tememos nem infernos nem castigos, punições ou pecados, demónios ou condenações assim como assumimos que a nossa eternidade é as marcas que neste chão fizermos, o nosso paraíso é todo o bem que nesta terra deixarmos, a nossa recompensa é o contributo que dermos a todos os que depois de nós virão.
Sem mediocridades, sem cobardias, sem arrogâncias e sem ignorâncias temos de assumir que os moralistas só nos dominam quando nós deixamos, quando nós nos submetemos, quando nós próprios, nos acobardarmos, quando nós abdicamos do nosso supremo direito de sermos livres.
Assim, eu, assumo, que só tenho uma moralidade: ser contra a moralidade.