APAGÃO DE 28 DE ABRIL: UM AVISO QUE NÃO PODEMOS IGNORAR

O apagão do passado dia 28 de Abril foi muito mais do que uma falha técnica ou um simples incidente no fornecimento de energia elétrica.
Apesar dos esforços de alguns responsáveis políticos para o descreverem como um caso isolado, quase irrelevante, a verdade é que este episódio diz muito – demasiado – sobre o estado real do nosso país.
E o mais preocupante é que, no fundo, todos sentimos isso.
Durante quase 12 horas, uma boa parte do território nacional ficou às escuras, sem luz, sem comunicações, sem capacidade de resposta.
O impacto foi profundo e transversal: desde as famílias presas em elevadores, até aos hospitais a operar em modo de emergência.
Não há como normalizar uma situação destas.
Não deve, não pode acontecer num país europeu do século XXI.
O que vivemos nesse dia foi, acima de tudo, uma declaração brutal da nossa impotência. De como, por trás da aparência de modernidade e eficiência, há uma infraestrutura frágil, negligenciada, vulnerável.
Como é possível que o colapso de um sistema, seja ele qual for, tenha este impacto em cadeia?
Onde estão os planos de reação e de contingência?
Onde está a redundância que deveria garantir a continuidade dos serviços essenciais?
A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil esteve igual a si própria: desaparecida quando é necessária (a velha máxima de "se não fizermos nada não fazemos asneiras").
Presente quando não é necessária (especialmente nas redes sociais), ausente quando é necessária, inútil em todos os tempos.
Fica a questão: porque é que ainda existe?
Não podemos ignorar a evidência: o apagão revelou uma falência grave, não apenas técnica, mas institucional.
Foi também uma demonstração inequívoca da fragilidade de quem nos governa, de quem tem responsabilidades de comando e decisão.
Uma falha destas exige respostas claras, rápidas, firmes.
E o que tivemos foi o silêncio.
O silêncio embaraçado dos dirigentes. O vazio de comunicação institucional. A ausência de líderes com a coragem e a lucidez de dizer: "Falhámos aqui. Estamos a apurar. Vamos corrigir."
Mas não!
Em vez disso, tivemos desculpas esfarrapadas, conjecturas, e o eterno empurrar das culpas para o lado.
Concordo que, em política real, e como dizia Churchill, "nem todas as verdades são para todos os ouvidos". Por vezes é necessário "adaptar" a verdade. Mas se tem que se fazer fazem-no bem, façam-no para inspirar confiança nas populações, façam-no com brio, com competência, com inteligência.
E, mais uma vez, o que se viu foi desleixo, incompetência, estupidez.
O Governo Português comunica tão mal que por vezes tenho dificuldade em enquadrar o que faz no conceito de comunicação...
Numa sociedade madura e responsável, o erro não é um escândalo – a negação do erro é que o é.
O que faltou, mais do que eletricidade, foi capacidade política e humana para enfrentar a crise com clareza, humildade e sentido de missão.
E o que dizer da resposta da população?
Ficou evidente que não estamos minimamente preparados para lidar com situações deste género.
A dependência absoluta de sistemas eletrónicos, a falta de planos de contingência, a ausência de informação básica sobre como agir em caso de falha prolongada.
Este apagão revelou também o quanto precisamos de investir em literacia para a segurança, em educação para a cidadania real, prática, útil.
Porque não basta viver em democracia – é preciso saber viver com responsabilidade e resiliência.
Foi preocupante ver como rapidamente se instalou o medo, a desinformação, a especulação.
A ausência de canais oficiais de comunicação eficazes deixou espaço para rumores e teorias absurdas que circularam sem controlo.
Tudo isto reforça uma evidência que custa aceitar, mas que já não se pode ignorar: somos um país muito mais frágil do que gostaríamos de admitir.
E não, não é culpa apenas dos "outros".
É uma fragilidade estrutural que atravessa os partidos, os sectores, as regiões.
A maneira como os responsáveis políticos se apressaram a desvalorizar o episódio é, em si mesma, uma segunda falha.
Ao recusarem encarar com seriedade o que aconteceu, estão a contribuir para que volte a acontecer.
Porque não é apenas um problema técnico – é um problema de cultura política, de visão de Estado, de preparação estratégica.
E isso sim, é grave!
Não podemos continuar a tratar episódios críticos como se fossem meros "acidentes" sem consequências.
Cada falha que não é analisada é uma lição desperdiçada.
Cada lição desperdiçada aproxima-nos do próximo desastre.
A resposta institucional foi pobre, errática, quase amadora.
Onde esteve o Primeiro-Ministro? Onde esteve o Ministro da Administração Interna? Onde esteve a Proteção Civil? Que mensagens passaram para o país? Que medidas foram anunciadas?
A ausência de liderança foi gritante.
O país sentiu-se abandonado.
Sentiu-se entregue a si próprio.
E isso, numa democracia moderna, é inaceitável.
É nestes momentos de crise que se vê a qualidade real da liderança.
Não é nas inaugurações nem nos debates televisivos que se prova o carácter político – é nas horas difíceis, nos momentos de incerteza.
E o que vimos foi desorganização, falta de planeamento, ausência de respostas.
Um país sem bússola.
Os serviços públicos colapsaram em silêncio. As infraestruturas essenciais mostraram-se vulneráveis.
E o cidadão comum, esse, ficou à mercê da sorte.
O que aconteceu no dia 28 não foi só um apagão elétrico – foi um blackout institucional, moral e cívico.
E o mais inquietante: passados três dias, ainda ninguém sabia ao certo o que se passou. Como começou, porquê, como se propagou, quem falhou.
Este tipo de opacidade é profundamente corrosiva.
Enfraquece a confiança nas instituições. Instala o sentimento de insegurança crónica.
Se as autoridades não conseguem sequer explicar o que aconteceu, como podemos confiar que estão a prevenir que volte a acontecer?
Não se trata de alarmismo. Trata-se de realismo.
Não se pode corrigir aquilo que não se reconhece.
A falta de explicações não é apenas incómoda – é perigosa.
Porque impede a responsabilização, a correção, a prevenção.
Um país sério encara os seus erros. Assume-os. Corrige-os. Aprende com eles.
É tempo de exigirmos mais. De não aceitarmos esta mediocridade política disfarçada de normalidade.
O episódio do apagão deve ser um ponto de viragem. Um aviso claro de que o caminho que seguimos não é sustentável.
A resposta certa não é o pânico, nem o conformismo – é a exigência.
A exigência de competência, de planeamento, de responsabilidade.
Porque não há liberdade sem segurança.
E não há segurança sem seriedade política.
Este país precisa de líderes à altura dos desafios que enfrentamos.
Líderes que saibam prevenir, mas também reagir.
Que saibam comunicar, mas sobretudo ouvir.
Se nada mudarmos, o próximo apagão será apenas mais um capítulo anunciado.
E já ninguém poderá fingir surpresa.
Este episódio precisa de consequências: Políticas, administrativas, pedagógicas.
Não podemos continuar como se nada fosse.
Chega de amadorismo, de irresponsabilidade, de desculpas.
É tempo de maturidade democrática.
Aprendamos com este apagão.
Façamos dele uma oportunidade de crescer.
De nos tornarmos mais exigentes. Mais preparados. Mais humanos.
Porque é nos momentos escuros que mais precisamos de luz – e de verdade!