ADRIANO MOREIRA E A ESSÊNCIA DE SER POLÍTICO

25-10-2022

Deixou-nos o grande e inspirador Adriano Moreira.

Deixo-nos, para mim, o último político português.

Adriano Moreira era o último representante daquilo que eu considero a essência do político e da política.

Passo a explicar:

Para mim o ato de exercer política é pôr, ao serviço dos outros, dos cidadãos e da Pátria o que de melhor temos e o que melhor sabemos fazer.

Ir para a política, exercer um cargo político, é o zénite de uma carreira, de um percurso, é o coroar do mérito, da capacidade, da excelência. Por isso, os latinos, chamavam ao percurso de um político "cursus honorum", isto é, e para os menos versados na língua de Virgílio, o "percurso da honra". E esse percurso era mesmo isso: um caminho, um crescendo, uma caminhada. Aqueles que queriam servir o Estado tinham, primeiro, de provar, na vida "civil" o que valiam. Podiam fazê-lo como gestores, como académicos, como militares, como advogados, como empresários. Mas fosse no que fosse, tinham de provar a sua excelência, a sua excecionalidade, a sua capacidade de realizarem, de fazerem, de concretizarem e tudo isso com brio, sucesso, excelência. Depois não começavam pelos altos cargos do Estado, mas sim pela base, e, passo a passo, conforme a sua competência e astucia, iam (ou não) na tortuosa escadaria do poder do Fórum.

Assim foi Adriano Moreira.

Antes de ser político foi um brilhante e conceituado advogado e um notável docente.

Foram esses méritos que, não obstante serem públicas as suas simpatias pela oposição, fizeram com que fosse chamado por Oliveira Salazar para funções governativas.

A política deve ser a consequência do mérito e não o mérito a consequência da política.

Uma verdade absoluta que, atualmente, muitos parecem ignorar.

Outra lição que nos deixa Adriano Moreira é que só pode haver uma missão, um propósito, um objetivo para quem assume cargos políticos: servir o Povo, servir a Pátria. A política, a verdadeira política não se trata de servir regimes ou sistemas políticos, não se trata de servir partidos ou líderes, ou então obter posições e cargos e, muito menos, servir-se a si e aos seus interesses.

A política é servir, é dar, é pôr ao dispor dos outros e do seu bem o melhor que temos e podemos, e, sempre, mas sempre, pelo maior interesse da Nação.

Tudo isto alheado de sondagens e possibilidades de reeleição, de lutas pela sucessão e pelos cargos, tudo isto repudiando manobras, maquinações, "esquemas" e conluios.

Assim fez Adriano Moreira.

Por isso teve cargos governativos em dois regimes, em vários governos, em diversas circunstâncias.

Quando o país, através do seu governo, o chama a servir, ele lá estava, dizendo "pronto", não lhe interessando quem governava, qual a ideologia, qual a tendência.

Adriano Moreira só tinha um partido e só tinha uma ideia: Portugal e o seu povo.

Mesmo o partido em que esteve na função era somente um instrumento, um veículo para melhor servir Portugal e os portugueses e nunca, mas nunca, pôs os interesses partidários á frente dos interesses da Pátria que tanto amava, como várias vezes o provou.

Por último Adriano Moreira deixa-nos o exemplo da coerência, mas uma coerência dinâmica que se adaptava ao tempo. De direita, conservador, democrata-cristão, o Professor foi sempre fiel aos seus ideais, defendo, em pleno, no que acreditava. Mas essa coerência não estava cristalizada no tempo e no espaço, os ideais eram antes dinâmicos, progressistas, entendendo e atendendo, sempre, à evolução, ao progresso, ao desenvolvimento.

Em 75 anos de vida pública e atividade política, sendo coerente com os seus ideais também foi sempre uma das mentes e uma das vozes mais dinâmicas, progressistas e renovadoras do panorama político português.

Adriano Moreira deu uma lição à direita portuguesa que devia ser gravada em granito eterno: o progresso não nega a tradição, o futuro não é incompatível com o passado.

Só sabendo de onde vimos podemos saber quem somos, e só sabendo quem somos podemos saber para onde vamos.

Adriano Moreira era a testemunha do passado, era a voz do presente e nunca deixou de ser o promotor incansável do futuro, de um futuro melhor para os portugueses e para Portugal.

Deixa-nos um dos últimos Senadores de uma geração a quem devemos a democracia. Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral, Gonçalo Ribeiro Teles, Francisco Lucas Pires, Ramalho Eanes, Jorge Sampaio, Jorge Coelho, António Vitorino são alguns que, com Adriano Moreira, partilhavam e, alguns deles, felizmente, ainda partilham, este modo de ser política e estar em política.

Espero que, neste momento de dor e despedida, os políticos atuais olhem para o exemplo deste Homem, deste Português, deste Patriota que a Portugal dedicou a sua vida, e se questionem que tipo de políticos são e que género de política fazem.

Que, neste momento, se questionem sobre o que fizeram antes de entrarem para a política, que méritos provaram, que caminho percorreram, que provas deram para merecerem ocupar os lugares que ocupam.

Que se questionem quais as verdadeiras motivações, propósitos e objetivos que os fazem estar em política.

Que se questionem a quem de facto servem e porque servem...

Seria muito útil para eles, mais seria para todos nós.