A tal!!! A NONA “Beethoven ninth: Symphony of the world” Documentário NETFLIX (e parabéns ao Urso!!!)

17-12-2022

Uns chamam-nos "melómanos", pessoas que gostam muito de música, que vivem a música, apaixonados pela música.

Mas isso para mim não chega!!!!

Eu sou mais!!!

Muito MAIS!!!

Eu sou um "Music junkie", um "melodio-agarrado", "músico-dependente".

Em 2022 (contagem de início de Dezembro) só no Spotify passei 71.377 minutos, no iTunes 29.216. São 1.676 horas, isto é, passei 69 dias a ouvir música 🙄.

E isto calculando dias de 24 horas...

...dias de trabalho seriam 209...

Como devem imaginar ouço música desde que acordo até que adormeço.

A música acompanha-me em muito do meu trabalho, em todas as minhas viagens, enquanto cozinho, e noutros momentos também, óbvio! (para alguns momentos é difícil escolher a música porque tem de se chegar a consensos nem sempre fáceis...😒).

Ouço de tudo, conforme os dias e os momentos.

Do gregoriano ao pop e ao rock, do clássico ao metálico, do barroco ao "pimba", passando pelo folclore do mundo todo (com preferência, óbvia, pelo minhoto), Country, blues, jazz, as nossas bandas filarmónicas e os tão nossos cantares populares com raízes profundas na portugalidade (vem aí a época dos cantares de Reis e das Janeiras!!!)

Ouço mesmo de tudo!! E gosto da maior parte!!!

Mas eu não sou o único!!!! Não!!!!

Há mais tolinhos como eu!!!

E, este "grupo patológico", como todos os grupos humanos, começa a criar ritos, hábitos e gírias!!

Em relação à gíria alguns exemplos: quando dizemos "Rach 2" (Lê-se Rak) referimo-nos ao Concerto para piano Nº 2, em dó menor de Sergei Rachmaninoff; "Área em Ré" ao 2º andamento da Suite Orquestral Nº 3 em Ré Maior, BWV 1068 do GRANDE Johann Sebastian Bach; quando dizemos "A Júpiter" referimo-nos à Sinfonia Nº 41 em Dó Maior, K. 551, "A Balada" é sempre a Balada para Solo Piano, No. 1 em Sol menor, Op. 23, de Frédéric Chopin; "a Rhapsody" é obviamente a "Bohemian Rhapsody" dos Queen's (não confundir com a "in Blue" que se refere à Rhapsody in Blue de George Gershwin); "a garagem" só pode ser a sublime música popular "A garagem da vizinha" do Maestro Joaquim Barreiros (dos poemas mais geniais alguma vez escritos sobre cuidados da ter com viaturas automóveis); o "Malhão" e a "Chula" só podem ser o minhotos, assim como o "Fandango" só pode ser do Ribatejo e tantos e tantos outros nomes carinhosos que atribuímos às melodias que conquistaram a imortalidade, a eternidade, independentemente da época, estilo ou autor.

Mas há uma especial!

Só nos referimos a ela por um número, um ordinal, mais nada.

Nada mais é necessário...

Basta dizer "A NONA" que todos, estes viciados em música, estes tolos da harmonia, sabemos que nos estamos a referir à Sinfonia Nº 9, em ré menor, Opus 125, "a Coral", de Ludwing van Beethoven (conhecido, na gíria dos Music junkies como "o Urso") e muitos de nós levantam-se em sinal de respeito.

A única, a sublime, a divina "NONA": Quatro andamentos (1º - Allegro ma non troppo, un poco maestoso; 2º Scherzo: Molto vivace - Presto; 3º Adagio molto e cantabile - Andante Moderato - Tempo I - Andante Moderato - Adagio - Lo Stesso Tempo e, por último, 4º, o inigualável, Recitativo ou Coral).

Tudo isto sem uma única imperfeição, absolutamente harmónico mesmo nas dissonâncias, sem mácula, a única sinfonia que envolve vozes: 4 solistas (soprano, contralto, tenor e barítono) e um coro, também a 4 vozes (soprano, contralto, tenor - subdividido ocasionalmente em tenor I e tenor II - e baixo), dando harmonia, no último andamento, o 4º (Recitativo) a uma adaptação de um poema de Friedrich Schiller, "À Alegria" (An die Freud) feita pelo próprio Beethoven (o original teve de ser adaptado por questões "métricas", mas o "sentido" ficou inalterado).

Parte desde 4º andamento, a que contem, precisamente, o poema de Schiller é conhecido, pelo público em geral (os não iniciados, os "membros não patológicos", a "plebe musical"), por o "Hino da Alegria", sendo, talvez, uma das músicas mais adaptadas, cantaroladas e também "violentadas" no mundo.

É também, mas sem letra, o Hino Oficial da União Europeia.

Tudo isto e muito mais!!!

É, simplesmente, A NONA!

Mas, mesmo assim, e, por vezes, até nós, os adoradores incondicionais d'A NONA, nos esquecemos do seu poder, da sua abrangência, da sua universalidade, da sua capacidade de unir, de congregar, de, pela simples beleza, derrubar fronteiras, culturas e condições.

É precisamente essa dimensão d'A NONA que o documentário da Netflix "Beethoven ninth: Symphony of the world", realizado por Christian Berger, nos lembra.

De uma orquestra de amadores de Quinxassa às salas luxuosas de Bona (cidade natal de Beethoven), do magnífico festival de Salzburgo às favelas de São Paulo, seja dirigida (e sentida) por surdos, pelos maiores génios da Direção Orquestral contemporâneos, ou por maestros completamente amadores e autodidatas, seja cantada por coros de aldeões africanos, ou por profissionais oriundos das melhores escolas de canto do mundo, ou com um coro amador de 10.000 pessoas (não, não me enganei no número), "A NONA" é sempre possível, é sempre sentida, é sempre partilhada por músicos, maestros, público e, fundamentalmente, é sempre magnífica e funde, quem a ouve, quem a fruí, num só espírito, numa só alma, numa só alegria.

É este carácter mágico d'A NONA, que, de um modo tanto apaixonado como rigoroso, nos transmite este documentário.

Vejam o filme, mas, prometam-me, que, logo depois, ouvem, "A NONA", o "símbolo do ocidente" como lhe chamou um maestro japonês.

E ouçam só, sem mais nada, sem pensamentos, raciocínios, sem interpretações.

Ouçam e maravilhem-se com a absoluta genialidade e simplicidade de algo absolutamente belo.

Logo hoje, 17 de Dezembro, dia em que nasceu Beethoven, em Bona, Alemanha, em 1770.

Parabéns, Urso, obrigado por tudo (e em especial pela NONA)

PS - Aconselho a interpretação gravada pela Deutsche Grammophon em 1963 (remasterizada disponível tanto no Spotify como no iTunes) pela Orquestra de Berlim, dirigida pelo divino Hebert von Karajan.