A QUEDA DO IMPÉRIO e o princípio do fim da ordem instituída

21-03-2023

Tem sido tempos atribulados! Muito!

Numa semana faliram 3 grandes bancos, daqueles que, num passado recente, eram assumidos como o sustentáculo do sistema financeiro.

O lendário Credit Suisse, um dos símbolos do sistema bancário em si, só para dar um exemplo, é mais do que um banco: é uma instituição. Era um símbolo de tudo o que os bancos e a banca deviam ser, era o modelo, era a referência.

Do outro lado do Atlantico outro símbolo se desmorona: o Silicon Valley Bank. Este banco era o ícone do que, todos diziam, seria o futuro da economia de mercado, as empresas de base tecnológica, as Startup, a continuidade ou a evolução natural dos mercados primários e regulados.

Afinal, também essa visão, nada mais era que uma miragem e o futuro prometido era, somente, uma previsão falaciosa e errada.

Na mesma semana a França aumenta a idade de acesso à reforma.

Também aqui não é o facto em si que tem a maior relevância relevância.

É o símbolo.

A França sempre foi o modelo do Estado social, do Estado providência, do Estado que toma conta dos seus cidadãos, que cuida, que garante.

Foi, durante muitos anos, o exemplo para todos os outros países ocidentais do que devia ser o Estado social e, acabou, com isso, por definir como a Europa se vê a si mesma nesta questão.

Jacques Delors, Giscard d'Estaing e, claro, Jean Monnet, este último considerado o "pai" da União Europeia, são, todos eles, franceses e também todos eles socialistas ou, pelo menos, sociail-democratas.

Afinal, a França é o berço do socialismo que se tornou a ideologia dominante de uma Europa que se diz unida.

A fechar a semana o BCE (Banco Central Europeu), contra todos os indicadores e previsões (e pressões políticas) voltou a aumentar a taxa de juro, afirmando que não tem a certeza de ter conseguido controlar a inflação galopante que varre a Europa e provoca uma perda de qualidade de vida sem precedentes na Zona Euro, em especial na classe média, isto é, e como já foi aqui falado, na classe contributiva, naquela que, no fundo, mantém e sustenta os sistemas de cada País.

Mas se na política, na Realpolitik, tem significado o que acontece, o que se faz e o que se realiza, mais significado tem ainda o que não se faz, o que não acontece, o que não se consegue e o que não se realiza.

Nada se resolveu na questão ucraniana, nada se avançou na tensão turca no seio da NATO que, embora concorde com a adesão da Dinamarca continua irredutível na questão sueca, nada se fez em relação à inflação, aos combustíveis, ao aumento dos produtos básicos….

Os políticos europeus parecem ter ou paralisado ou fugido.

A velha máxima da política diplomática britânica de "os verdadeiros problemas resolvem-se sozinhos" parece que, por fim, chegou ao velho continente.

Talvez a classe política atual, aquela que não teve origem no ativismo e no mérito, mas sim nas juventudes partidárias, aquela que sabe tudo sobre partidarismo mas nada sobre política, aquela de domina a imagem mas não a ação, entendeu, finalmente, que o "império" está a cair.

Que o mundo evolui com as suas próprias dinâmicas e processos e que há coisas que são o que são.

Que por muito belas que sejam as idílicas filosofias de Marx, Engles e Proudhon, e todas as teorias, ideologias e divagações que daí advieram, com origem nas mentes académicas da nova classe política, a realidade impõe-se e não há "visão" e discurso político, por mil vezes que se repita, que se consiga sobrepor aos factos.

E o que aconteceu e não aconteceu esta semana é prova disso.

Os bancos só funcionam em sistema liberal, porque foram criados à sua imagem e semelhança. No momento em que os Estados controlam a atividade bancária, em especial limitando a taxa de juro, tiram aos bancos a sua principal fonte de rendimento e, com isso, a sua possibilidade de se manterem e até sobreviveram  todo o sistema bancário tem, logicamente, de entrar em colapso.

Nenhuma instituição se mantém com 1% de margem de lucro que foi isso que a ocidente obrigou o sistema bancário a fazer durante décadas. Tem de se entender que não é o banco que deve controlar a taxa de juro do empréstimo para que o cidadão possa pagar: é o cidadão que tem que determinar se pode ou não contrair o empréstimo.

Na ilusão que todos somos iguais e todos temos os mesmos direitos, gerou-se a ilusão que todos temos a mesma riqueza.

E não é verdade.

Depois foi uma história de catástrofe….

Com baixíssimas taxas de juro os bancos, para se manterem viáveis, criaram os produtos financeiros (como os cartões de crédito, as contas ordenado com negativo autorizado, etc.) de modo a manter a possibilidade de cobrar juro e, assim, manter a liquidez, e, por fim os famosos produtos derivados, já abordados neste blog, e que estão, literalmente, a destruir o sistema bancário e a provocar todas estas quedas e falências.

Mais: o próprio sistema bancário, literalmente estrangulado pelos reguladores, criou os "mercados secundários" em que, por exemplo, obrigações do tesouro soberano, fundos de investimento, seguros de capitalização e outros instrumentos financeiros são transacionados fora (por vezes muito fora) das suas maturidades e a cima ou abaixo (por vezes com extraordinárias disparidades) do seu valor real e garantido (porque o valor do retorno acordado só é garantido, precisamente, no final da maturidade) pondo em risco esses mesmos instrumentos, a sua credibilidade, logo o seu valor e a sua atractividade como investimento.

Os investimentos do sector bancário nestes "mercados secundários", por vezes correm bem, até muito bem, o que explica os lucros que algumas instituições financeiras demonstram nas últimas demonstrações de resultados consolidados.

Mas, por vezes corre mal, mesmo muito mal, e a exposição é tanta a estes ativos que, de um dia para o outro, o que é inabalável, se desmorona como um frágil castelo de cartas.

Assim o esforço do Estado Social de estabilizar o sector bancário está, por um lado, a destruir esse mesmo sector bancário, por outro, por levar os bancos a reagir para manter a liquidez, a prejudicar seriamente a população com subidas abismais da taxa de juro, garantias ao crédito inalcançáveis e taxas de esforço absurdas.

O socialismo e o marxismo nunca entenderem uma verdade básica: o problema nunca foi haver ricos, o problema sempre foi haver pobres.

Nós não devemos combater a riqueza!

Nós devemos é combater a pobreza!

Outro exemplo: a Segurança Social.

A segurança social, o apregoado Estado providência, é a base e razão de ser do socialismo e mesmo da social democracia.

Mas quando a base contributiva se torna inferior à população beneficiária, é óbvio que o sistema irá entrar em colapso.

Nunca ninguém gastou mais do que ganhou e se manteve. É tão simples quanto isso.

Mas o sistema já funcionou?

Claro que sim.

Quando os trabalhadores (os que, com os seus descontos, mantém a liquidez do sistema) eram mais do que os reformados.

Mas a esperança média de vida, felizmente, cresceu em quase 20 anos nos últimos 40 anos. O cidadão que antes beneficiava da reforma 5 ou 10 anos passou a beneficiar 20 ou 30, pelo simples facto que deixou de morrer aos 60 e passou a morrer aos 80 ou mais!

Também os casais ocidentais que tinham 5 ou 6 filhos, passaram a ter 1 ou 2, reduzindo a mão de obra e, logo, a capacidade contributiva.

A automatização, sistematização e digitalização dos processos, passando para as máquinas o que era antes feito pelo homem é quase, e desculpem-me a ironia, a "cereja no topo do bolo".

Assim não há ideologia, política ou nem tão pouco engenharia financeira que mantenha um sistema que não tem base para se manter.

A única forma é aumentar a idade de acesso à reforma e as contribuições dos trabalhadores para o sistema.

Mas tudo isso tem limites que estão próximos, demasiado próximos, de serem atingidos, isto é, "estrangular" a classe média em contribuições ao ponto de lhe retirar a liquidez e, transformá-la, também a ela, em não contributiva, antes beneficiária de assistência e apoio social.

Nos Estados Unidos já se estuda o fenómeno dos "wealthy poors" (pobres abastados), isto é, indivíduos que embora com altos cargos e bons salários não conseguem fazer, mesmo assim, frente às despesas que tem.

Afinal, o que adianta ganhar 3.500€, se se desconta 50% desse valor em impostos e contribuições e a renda de casa é de 2.000€?

E é assim que o Senhor Diretor de Departamento, com licenciatura, mestrado e MBA, empregado e com uma promissora carreira vive no carro e a sua única refeição do dia é fornecida por ONGs de apoio a sem abrigo.

Lógico que, com esta situação, virão convulsões sociais cada vez mais graves, partidos nos extremos cada vez mais radicais, populismos cada mais utópicos e o final da história todos sabemos….

Solução?

Simples: honestidade!

Os políticos têm de começar a dizer aos seus eleitores, ao povo, de facto, o que são as coisas e como tudo é e funciona.

Tem de se deixar de prometer o que se sabe que não vai acontecer, tem de se terminar com a demagogia e com o populismo.

O cidadão tem de entender que nem sempre pode ter o que quer, que o paraíso não existe, que viver é uma sucessão de avanços e recuos, de sucessos e fracassos e que se temos bons momentos outros serão menos bons ou até maus.

Mas, fundamentalmente, os cidadãos têm de entender que o seu bem estar, a sua estabilidade, mesmo a sua prosperidade só pode ter origem num fator: no seu trabalho.

O trabalho, o esforço, a dedicação, o empenho são a base do sucesso.

O sucesso é uma consequência e não um direito ou uma garantia como muito socialismo populista (e não só) apregoou durante anos.

A realidade é simples e límpida: quem trabalha, quem se esforça, quem se dedica vence, os outros não.

E o Estado tem de deixar de interferir neste processo que é tão natural como a própria natureza.

Afinal, é assim que tudo funciona no universo: desde a evolução natural à seleção das espécies.

O Estado tem de garantir, somente, que esta natural competição pelo sucesso seja justa e equitativa, que todos tenham acesso às mesmas oportunidades (e não aos mesmos resultados), que todos tenham o mesmo ponto de partida (e não que todos atinjam os mesmo objetivos ou mesmo, sequer, que atinjam objetivos sequer).

O Estado tem de impor e manter a meritocracia e deixar que a sociedade, os mercados e os cidadãos, naturalmente e segundo a natureza, façam o resto.

Uns vencerão, outros não, uns serão ricos, outros pobres, uns serão reconhecidos, outros para sempre anónimos.

Mas é assim que as coisas são e só assim podem ser.

Em toda a natureza há os que prosperam e os que se extinguem, os que vencem e os que perdem, os que atingem o sucesso e os que fracassam, uns que são predadores enquanto outros são presas: porque connosco, Homo Sapiens seria diferente?

Óbvio que o Estado tem de ter os meios e os recursos necessários para valer ao bem comum, às situações de exceção (como emergências e desastres) e àqueles que por vários motivos (como incapacidades ou deficiências) não podem, em igualdade, competir pelo sucesso.

Mas garantir o bem-estar de alguns não é garantir a boa vida de todos.

Quem pode trabalhar tem de tirar o rendimento desse trabalho.

Se não o fizer é uma opção sua e deverá, como é óbvio e justo, sofrer as suas consequências.

Os cidadãos reais, de uma vez por todas, têm de se convencer que vivem no mundo real, nem sempre perfeito, nem sempre "justo", nem sempre bonito, mas é o que temos e no qual vivemos.

Continuo a achar e a defender que viver em pleno o real, mesmo que este não seja o que desejávamos ou mesmo achamos justo, é sempre muito melhor que viver na esperança de um sonho impossível que nunca se concretizará.

Temos, de uma vez por todas, de viver a vida e não viver de sonhos, pois esses, por muito belos que sejam, nunca alimentam ninguém.