A POLÍTICA SEM POLÍTICOS ou a “dança” do governo e o Sebastianismo...
Uma das principais razões deste blog, e que, inspirou, inclusive, o seu nome, é explicar, discutir, questionar, debater o que é a política real, aquela que, de facto, acontece, aquela que, realisticamente, faz com que as decisões sejam tomadas.
Em rigor, a política fria, pura, dura e nua, depois de esvaziada de toda as técnicas de comunicação, manipulações mediáticas e esquemas ideológicos.
Foi, é e será esse o objetivo deste espaço, enquanto eu achar ter nexo de existir.
Por isso: vamos lá analisar, em termos de Realpolitik, a passada semana na política portuguesa.
Demite-se Pedro Nuno Santos, é nomeado João Galamba, demitem-se duas Secretárias de Estado por terem "esqueletos no armário", uma delas por clara e pública ordem do Presidente da República; funda-se um ministério, e isto depois de mais 9 outras demissões e isto em 9 meses de governo sustentado por uma maioria absoluta parlamentar.
O que isto, em termos de Realpolitik, nos diz?
Muito!!!
Vamos por partes, 4, para ser mais específico.
Primeiro: o governo português, e arriscaria até a dizer Portugal, não tem Deep State. Como já referi várias vezes em vários textos neste espaço, Deep State é uma classe de indivíduos, de técnicos (chamem-lhe o que quiserem), que fazem a política real. São os assessores que, por exemplo, investigam os antecedentes dos candidatos a cargos políticos, que verificam passados, que aprofundam boatos, que estudam perfis, que acompanham carreiras, progressões, que detetam talentos ou incompetências, por vezes durante anos... São a sombra dos políticos, os que avisam que expressões como "habituem-se" não se dizem numa entrevista e que telefonam ao seu colega (outro Mandarim) para saber se o Primeiro-Ministro sabe que o Ministro das Infraestruturas vai fazer um anúncio sobre um tema central para o país que anda a ser discutido há 50 anos.
E não há mal nenhum nisso!
Convenhamos que é impossível um detentor de um cargo público, um Ministro ou um Secretário de Estado, mesmo um Diretor-Geral, saber tudo, estar a par de todos os dossiers, estar ao corrente de todos assuntos.
Com a complexidade atual da política contemporânea e com o nível de escrutínio, tanto popular como mediático, é humanamente impossível tal acontecer.
É, também e fundamentalmente, trabalho do Deep State, fazer os resumos, escrever os discursos, elaborar os memorandos, controlar os media, chegar a acordos que nunca poderão ser confessados e a alianças que jamais figurarão nos livros de história, mas que são fundamentais para que as Nações e os povos evoluam, progridam, tenham paz e sustento.
Todo esse trabalho é, também, absolutamente fundamental para que a Senhora Ministra ou o Senhor Secretário de Estado façam, sempre, o correto, não digas asneiras, não cometam imprecisões, indiscrições, que não entrem em roturas e incompatibilidades políticas, especialmente, dentro do seu próprio governo, que não nomeie pessoas sem idoneidade política, que não andem de crise em crise como um calvário de vergonhas e incompetências.
Ora é esta classe de gente que o Partido Socialista ou não tem ou, se tem, é mesmo muito má!
E eu entendo porque não tem: o que me leva ao segundo ponto: As pessoas que atualmente estão a ir para a política não o estão a fazer pelas razões corretas (e não estou a dizer que são más razões).
Quem vai para a política devia ir para servir, para fazer algo de útil, pelo servido público, pela causa pública.
Obtendo daí o seu rendimento, dividendos, retorno? Obvio! Mas isso sempre como uma consequência, não como a causa e sempre sujeita a limites.
Quem quer ser rico vai para empresário. Aí não há limites par além da própria legalidade.
Na política não é assim!
Embora eu seja um absoluto liberal e acredite que todos, mas todos, queremos (e devemos) ser ricos, há uns (como eu) que se sentem "ricos" com outros valores para além do simples saldo bancário:
Poder, influencia, sentido de dever, vontade de servir, querer ficar na história do país, mesmo do mundo, vício na "adrenalina" da manipulação, da "manobra", gosto pelo "jogo político", fugir de complexos vários, como o de inferioridade, potenciar conquistas sexuais, são valores (todos eles válidos, alguns até nobres), que alguns valorizam tanto quanto o dinheiro e que estão dispostos a trabalhar, muito, para os alcançar.
E esse tipo de valores não se conseguem, tanto, na indústria nem no comercio, mas mais na política e no serviço público.
Depois, dentro da verdadeira política, há aqueles com mais ou menos talento mediático, de oratória, de imagem e aqueles com mais ou menos capacidades "manipuladoras", de planeamento, de antevisão, de execução.
Os primeiros, os bem-falantes, os eloquentes, assumem a política pública.
Os outros, os manipuladores das sombras, os planeadores, os estrategas, ficam na sombra, na penumbra, nunca aparecendo (e adorando que assim seja).
Ambos são fundamentais, cada um no seu devido lugar e todos tem os seus méritos.
Os segundos não aparecem, mas tem poder de facto, são os famosos "mandarins" britânicos, os eternos Sir Humphrey da lendária série televisiva "Yes minister" inglesa.
Ora, em Portugal, quem observa, por exemplo, as juventudes partidárias, não vê esta motivação, logo não encontra os "Mandarins".
Vai-se para a política para aparecer, para ter o cargo, para ter grandes rendimentos sem ter de provar grande coisa. Vai para a política o miúdo com 21 anos, em lista de espera para ser admitido num mestrado de uma universidade de segunda, mas que foi "sacar" (eu sei que devia ter escrito "auferir" mas achei que a nobreza da palavra não era adequada à baixeza do ato) um rendimento de mais de 3.000€ sendo assessor de um Ministro qualquer. Ninguém com um mínimo de seriedade aceitaria tal oferta, ninguém com um mínimo de sentido de Estado a faria.
Mas aconteceu!
Este miúdo, por muito genial que seja (e, tendo em conta os resultados académicos, não é) não tem o saber, a experiência, o conhecimento para ir para Assessor de coisa nenhuma, nem da casa dele. Teria para ser estagiário, depois funcionário e um dia, quem sabe, ser, de facto ou um político ou um Mandarim, nunca ambos, nunca agora.
O pior de tudo (porque, de facto pode piorar), é que alguns desses "boys" e dessas "girls" ("jotinhas" como são conhecidos por aqui), conseguem passar no escrutínio dos jornalistas e da opinião pública, passam "pela rede", pelos "pingos da chuva" e lá vão "alpinando" a carreira da política dos medíocres.
Alguns até tem argúcia, alguma inteligência e bastante astúcia como é o caso do Primeiro-Ministro; outros tem alguma inteligência, mas pouca argúcia e nenhuma astúcia como é o caso de Pedro Nuno Santos; outros não tem nenhuma das três como é o caso de João Galamba ou Mariana Vieira da Silva.
O que me leva ao terceiro ponto: como é evidente as pessoas competentes, de valor, com conhecimentos, com capacidades, não se querem misturar com esta estirpe de oportunistas. Para além de ser intelectualmente empobrecedor e humanamente desgastante (ninguém é mais insuportável, arrogante e inconveniente do que um medíocre), não se querem ver arrastadas para polémicas constantes e escândalos contínuos, pondo em causa a sua reputação, idoneidade e futuro para além de se perder a paz, a tranquilidade e, quiçá, a sanidade!
Por isso temos assessoras da Câmara Municipal de Vinhais com contas arrestadas a chegar a Secretária de Estado e putos rebeldes com mania que são "trendies" do Twitter a chegar a Ministros (e com todo o respeito por Vinhais que tem as melhores alheiras do Mundo e arredores!)
Porque, de facto, não há mais ninguém!
Os medíocres são, atualmente, os mais capazes para a política porque são os únicos que conseguem lá estar, nem que seja por 29 horas!
A política está a ficar vazia de talento, de capacidade, de competência, de valor.
O que me leva ao quarto e último ponto: é a política e não o partido do poder que se encontra nesta situação calamitosa.
A oposição sofre exatamente dos mesmos males que o partido do governo.
Como é que sei?
Porque este governo tem feito tanta asneira, tem-se envolvido em tantas polémicas e em tamanhos escândalos que, se houvesse, de facto, oposição, com ou sem maioria absoluta, o governo já tinha caído.
Se a posição, em especial o Partido Social Democrata (PSD) que, ainda, se afirma (mas mal) como Líder da Oposição, tivesse políticos com carisma (na política pública) e políticos com estratégia (na sombra) a pressão política, pública, do setor privado, dos parceiros externos, dos mercados seria tanta que não deixaria ao Chefe de Estado outra hipótese que não dissolver a Assembleia da República fazendo cair o governo.
Aliás, o Presidente da República (esse sim, um Político brilhante a todos os níveis) já disse, para bom entendedor, que só está à espera de um motivo para o fazer.
Mas ele, por ele, sem pressão, não o pode fazer, sob pena, como o próprio o disse "transformar Portugal num regime presidencialista quando não o é". E já muito faz e muito longe vai o Presidente que, se não fosse ele, convenhamos, as Secretárias de Estado ainda estariam em funções, pávidas e serenas, sem o PM "perder um segundo que seja com essas questões" e connosco sem outro "remédio" que não fosse cumprir o "habituem-se".
A política portuguesa não precisa de novos políticos, precisa, antes, de uma nova estrutura política, especialmente com os políticos da sombra, da estratégia, dos planos.
Em rigor, precisamos mais de assessores do que de políticos, porque se bons assessores criam e sustentam bons políticos o inverso já não acontece.
Qual a solução?
Meus amigos e amigas, nem eu, que tenho a mania que sei sempre tudo e que tenho a solução para tudo, consigo, desta vez, propor seja o que for.
Olhem: tenhamos Fé que, nestas circunstâncias, é a única coisa que nos resta.
Continuemos a acreditar em Dom Sebastião.
Afinal, já vamos com 500 anos disto...