A GERAÇÃO SEM ‘NÃO’: O COLAPSO SILENCIOSO DA EDUCAÇÃO

31-10-2025


Há notícias que ferem de tal forma o coração que nos obrigam a parar.

Um jovem de catorze anos matou a própria mãe com um tiro.

Diz, o jovem, que ela era "demasiado exigente".

Sou pai e não consigo ler isto sem sentir um nó na garganta.

Não é só o horror do ato.

É o retrato frio e cruel de uma sociedade que já não sabe educar, que já não sabe amar com sabedoria, que já não sabe dizer "não" sem culpa.

Não quero falar de leis!

Não quero discutir idades de imputabilidade criminal nem molduras penais. A justiça chegará, mas chegará tarde. Como sempre. A lei é o remendo tardio da ferida que já sangra. É o remédio amargo que tenta conter o veneno que já circula. Não, o foco não deve estar em aplicar a lei, mas em evitar que ela precise de ser aplicada.

O que me atormenta é o "antes". O antes deste crime. O antes da tragédia. O antes das lágrimas.

Como é que um jovem, de apenas catorze anos, filho de uma família de classe média alta — com acesso à educação, à tecnologia, ao conforto — chega a um ponto em que mata a própria mãe porque ela era "demasiado exigente"?

Não há desculpa!

Não há relativismo que sirva de abrigo para tamanha monstruosidade.

O mal não está na lei, está na forma como estamos a educar os nossos filhos.

Criamos uma geração de jovens hiperprotegidos, mimados, intocáveis.

Crescem num mundo sem contrariedades, sem limites, sem esforço. Acham que tudo lhes é devido. Que tudo o que desejam deve ser imediatamente satisfeito.

E os pais?

Os pais são reféns de uma ideia tóxica: a de que amar é nunca contrariar. De que educar é evitar frustrações. De que proteger é remover obstáculos.

Assim, confundem amor com permissividade. Liberdade com libertinagem. Felicidade com ausência de responsabilidade.

Vivemos tempos em que muitos pais querem ser os "melhores amigos" dos filhos. Mas os filhos não precisam que os pais sejam amigos (isso eles encontram entre os seus pares como é normal e natural).

Precisam é que os pais sejam pais!

Precisam de autoridade, de estrutura, de disciplina, de coerência. Precisam de alguém que lhes mostre o que é o bem, o que é o mal, o que é o certo e o errado. Com muito amor, mas também com muita clareza.

E, sim, precisam de alguém que diga "não". O "não" é o primeiro muro que ensina uma criança a viver em sociedade. É o "não" que constrói a noção de limite, que ensina o respeito, que forma o carácter. Sem ele, tudo se dissolve.

O problema não é de uma geração. É de uma cultura. A cultura do facilitismo, da gratificação imediata, da ausência de esforço.

Os jovens de hoje não sabem o que é esperar. Tudo é instantâneo: a comida, o prazer, o sucesso. Vivem em redes onde a validação é medida em "likes" e o valor é uma ilusão digital.

Mas a vida não é um feed. A vida é feita de falhas, de dores, de quedas, de aprendizagens.

E é precisamente nelas que se forma o carácter. Um jovem que nunca é contrariado, que nunca é desafiado, que nunca tem de lutar por nada, cresce sem alicerces. E sem alicerces, qualquer vento o derruba.

A escola já não educa. Limita-se a transmitir conteúdos, a gerir egos, a evitar processos. A família já não forma. Ocupa-se em distrair, em compensar, em justificar. E a sociedade, no meio de tudo isto, anestesia.

Estamos a produzir jovens emocionalmente frágeis, moralmente voláteis, socialmente egocêntricos. Gente que não distingue desejo de direito. Que não aceita autoridade. Que exige sem merecer.

E depois, quando o caos acontece — como neste crime —, corremos a procurar culpados externos: o sistema, os videojogos, as redes sociais, a escola, a polícia.

Nunca olhamos para dentro. Nunca perguntamos: onde falhámos?

Falhámos quando confundimos amor com indulgência. Falhámos quando demos liberdade sem ensinarmos responsabilidade. Falhámos quando deixámos de ser exemplo e passámos a ser cúmplices.

Educar é amar, mas é também contrariar. É proteger, mas é também exigir. É compreender, mas é também corrigir. É preparar para o mundo, não esconder do mundo.

Há um mito perigoso a circular: o de que disciplina traumatiza.

Não, o que traumatiza é o vazio.

É crescer sem referências, sem estrutura, sem direção. É chegar à adolescência sem saber quem se é, o que se quer, o que se deve.

A educação é o maior ato de amor que existe!

E o amor, para ser verdadeiro, tem de ter forma, tem de ter regra, tem de ter limite. O amor sem verdade torna-se sentimentalismo. O amor sem disciplina torna-se abandono.

Os pais de hoje têm medo de impor regras. Têm medo de magoar, medo de serem vistos como autoritários, medo de não serem amados.

Mas não há maior prova de amor do que preparar um filho para viver num mundo que não o vai poupar.

Se queremos filhos livres, temos de lhes ensinar o que é a liberdade. E a liberdade, ao contrário do que se pensa, não é fazer o que se quer — é saber escolher o que é certo.

Um filho que nunca ouve "não" em casa, vai ouvir "não" na vida. Mas aí será tarde, e talvez já não saiba lidar com isso. E o resultado, às vezes, é tragicamente irreversível.

Este crime é um grito. Um grito de alerta. Um espelho cruel de uma sociedade que se perdeu entre o medo de educar e a pressa de desculpar.

Não precisamos de mais leis. Precisamos de mais pais presentes. De famílias que eduquem, não que deleguem. De escolas que formem, não que apenas certifiquem.

A civilização não se transmite por instinto. Aprende-se, ensina-se, exige-se. Educar é, afinal, o primeiro e o último ato de civilização.

Se falharmos aí, falhamos em tudo o resto.


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