2024 - GUERRAS SILENCIOSAS E ALIANÇAS PERIGOSAS
Está a terminar 2023.
E que ano!!!
E como é tradição neste género de coisas, faz-se assim uma espécie de resumo de um ano e projeção para o próximo, pelo menos foi o que me disseram.
Então vamos a isso, afinal, eu sou um indivíduo que gosta de cumprir tradições!
Acho que todos já nos esquecemos que foi em 2023 que, em definitivo e oficialmente, se terminou com o Pandemia do COVID 19.
Sim!!!! é verdade, houve uma pandemia que paralisou o mundo entre 2020 e 2022 e parece que todos querem tanto esquecer-se disso que até já se esqueceram.
Mas se já ninguém fala do COVID os seus efeitos continuam e continuarão connosco.
Porque a pandemia, como o mundo reagiu, como se teve de adaptar, os novos hábitos que se adquiriram, outros que se abandonaram, não só impactaram a nossa circunstância: mudaram a circunstância.
Há um mundo antes e um mundo depois a Pandemia do Covid 19 e todos temos de nos convencer disso e, parece-me, que alguns ainda não se convenceram.
Como dizia alguém, não se vencem com táticas de ontem guerras de hoje.
E é completamente verdade.
Empresas, organizações, indivíduos, até os Estados tem, primeiro que tudo e antes do mais, de entender que nova realidade é esta que enfrentamos, o que mudou, o que passou a ser e o que deixou de ser, para, depois, feita a análise e o diagnóstico, adaptar, adequar, criar, anular políticas, conforme essa circunstância.
Sem isso será impossível enfrentarmos o futuro e os vindouros desafios com firmeza, assertividade e alguma possibilidade de sucesso.
Porque, desconfio, que alguns problemas como, por exemplo, a crise na habitação, o crescente endividamento das populações, as taxas de juro a terem de ser mantidas altas para esbater, artificialmente, uma inflação galopante e mesmo algumas crises migratórias não são a causa, são a consequência.
É preciso entender isto para que se possa atuar o mais rapidamente possível, porque cada dia que passa sem sabermos, exatamente, em que mundo vivemos e que tipo de sociedade gerimos é menos um dia que temos de o fazer bem e adequadamente.
No que diz respeito aos Estados Unidos da América tudo na mesma, como sempre.
Joe Biden não se consegue impor, cada vez se apaga e dilui mais num cada vez mais caótico sistema político minado até ao amago, como o americano.
Kamala Harris, a mulher negra, vice-presidente, que todos apontavam como a quase certa sucessora de Biden já nas próximas eleições, não consegue demonstrar e impor-se como alternativa e os democratas estão sem soluções.
Os republicanos continuam sem saber o que fazer com Donald Trump, sempre igual a ele próprio, sempre igual à América real que, não seria grande surpresa, o voltaria a eleger se os republicanos não tiverem juízo e não começarem, desde já, a formar uma frente unida contra essa eventualidade.
No entanto não sei se é isso que os Republicanos, de facto, querem.
Afinal, na realpolitik o que importa é ter o poder, seja lá como for, seja lá com quem for, e se as cúpulas partidárias da direita americana começarem a ver que Trump é o modo mais viável de conquistar a Casa Branca, não terão problema nenhum em fazer eleger Trump.
Porque alternativas fortes e credíveis... também não as há!
Com todos estes problemas internos, a não conseguir cumprir o que prometeu, a a não ter nenhuma vitória interna, Biden faz o que sempre fazem os Presidentes Americanos quanto tem crises internas: geram ou mantém crises externas.
Primeiro era a Ucrânia, agora é Israel...
A Ucrânia, essa... mais um inverno, aquele tal inverno que eu disse que não podia acontecer...
Aconteceu...
Zelensky, Estados Unidos, a União Europeia, as Nações Unidas, todos juntos, não conseguem resolver o problema, não conseguem reconquistar nada, conseguir nada, avançar nada.
Infelizmente eu tinha razão!
Ao confundir paz com vitória, a teimar em posições intransigentes, inabaláveis, a Ucrânia vai-se colocar numa situação que, por incrível que possa parecer, vai mesmo perder e vai ter que ceder mesmo todos os territórios até agora ocupados ou até mais.
O presidente ucraniano desgastou a sua posição, a sua mensagem, a sua imagem, a causa "Ucrânia" começa a "cansar" a opinião pública ocidental, a massacrar os orçamentos nacionais em anos de eleições importantes e, já se viu, por exemplo, em Itália, na Polônia e na Hungria que quem apoia a Ucrânia... perde.
Foi uma hipótese que nunca me passou pela cabeça: a Ucrânia perder por abandono.
Porque Putin, esse, é um mestre nas jogadas que faz.
Lembram-se do meu texto Gambito de Dama?
Putin consegue fazer a mesma jogada, no mesmo jogo, várias vezes.
Incrível!!!
Porque ninguém me convence que o ataque do Hamas a Israel e a consequente escalada (mais uma) no milenar (sim!! tem quase 3000 anos sem uma única pausa) conflito Israelo-Árabe teve ali uma grande, mas grande influência da Rússia.
O ciber-ataque que antecedeu o ataque armado tem "impressões digitais" dos "Ursos" de São Petersburgo por todo o lado.
Essas "dedadas" também nos indicam e provam que o grupo Wagner está ativo, operacional e prospera.
Outra grande jogada de Putin.
Ao dividir esforços, atenção, mediatismo, Putin consegui esvaziar a questão ucraniana ao ponto de por, neste Dezembro, Zelensky a percorrer o mundo a bater a todas as portas que consegue...
E são cada vez mais as que não se abrem, e as que se abrem é por cortesia pois o presidente sai de lá de mãos vazias.
Quanto à União Europeia...
Serve mesmo para quê?
A inflação não desce, os juros também. não, não há ações sustentadas para as políticas centrais como ambiente, combustíveis fósseis, carência de cereais, tráfico humano, imigração ilegal...
Um ano e nada mudou, antes pelo contrário.
Mais um ano e nada vai mudar a menos que algo (assim tipo Pandemia) surja.
Tudo vai continuar como sempre e cada vez mais os problemas vão-se agonizar, agravar e tornar, dia-a-dia, quase hora-a-hora, mais insolúveis com mais graves e profundas consequências.
E enquanto o Ocidente, o grande e supremo ocidente, anda a brincar que faz, a China, o milenar Império do Meio, é, como sempre, igual a ele próprio: inteligente, brilhante até e... impiedoso.
Não se envolvendo em nada mas estando em tudo, assume posições em mercados emergentes, consolida a sua posição como potencia dominante no seio dos BRICS (como provou na quase despercebida cimeira de Agosto), compra, embora não diretamente, ativos estratégicos por todo o mundo e absorve divida soberana de outros países com uma voracidade tal que chega a por em risco (embora por pouco tempo) a sua própria estabilidade económica (que ainda não sei se a "tal" crise económica Chinesa de meio do ano foi desinformação ou não...).
Uma coisa é certa: a China está a preparar, lenta mais minuciosamente, um Xeque-Mate global que, acho, que ainda não será em 2024 que acontecerá. Afinal... a expressão "paciência de chinês" vem de algum lado, não é?
Penso que serão precisos mais 2 ou 3 anos para que a jogada final se consume e, aí, não vai haver dúvidas, que quem se vai assumir (porque, de facto, já é!) a grande potencia mundial, tanto em termos militares, como económicos, como políticos.
Sabem falar mandarim?
Acho que é uma boa altura para começar a aprender!
Finalmente 2023 quase que termina com a negação absoluta do que muitos já começavam a acreditar: o terrorismo de fundamentalismo islâmico não está morto, muito menos enterrado.
Mudou foi de forma.
Grupos como o Hamas, o Hezbollah, a Fatah, entre outros, voltaram, mas voltaram, regressando "à filosofia" da "velha guarda".
Lá tive que ir ao fundo da estante buscar os velhos livros para relembrar conceitos de terrorismo que eu, e toda a gente, já pensávamos ultrapassados.
Já passaram os tempos de Bin Laden e de Abu al-Qurashi, Abu al-Jaheishi e Musab al-Zarqawi.
O Terrorismo Islâmico voltou à antiga postura de não ser o centro das atenções, não ser o foco de todas as ações e polo congregador de todo o ódio ocidental e não só.
Basta-lhe estar "no jogo" e ir colhendo, um aqui, outro ali, um agora, outro depois, os dividendos de ações curtas, rápidas, surpreendentes, localizadas, mas muito, muito eficazes.
Também, e igualmente na "antiga filosofia" das anteriores intifadas, sabem que destabilizar o ocidente é um "jogo de equipa", que são necessários aliados, patrocinadores, apoiantes, que é preciso fazer favores, cedências, "entrar no jogo".
Por isso teremos um ano que nos fará recordar quase os anos 60 e 70 com uma instabilidade crescente no médio oriente, mas sem nunca sair do "morno", uma instabilidade pensada em Moscovo, planeada em Teerão e executada por todo o médio oriente, da Palestina ao Iémen, do Qatar à Somália.
Por isso, e na minha opinião, 2024 será mesmo isso:
um ano morno, em que nada de muito sério acontecerá, mas também nada se resolverá.
O que existe continuará, num crescente desgaste, deterioração o e agonização.
Voltando ao início do texto, que já vai longo, é achar que conseguimos, com táticas antigas ganhar guerras presentes, é negar que estamos numa nova época, numa diferente circunstância, num distinto contexto.
É, também, achar que os políticos de sempre vão agora ter novas ideias e novas soluções que possam resolver os problemas de uma nova época que, eles próprios, se recusam a admitir, que eles próprios negam e, que, por isso, não entendem, não sabem resolver, não sabem, sequer como irá evoluir.
Para nós, o povo, como sempre, mais do mesmo.
Viver o melhor que se pode, gozar o mais que se conseguir e ir assistindo a este "jogo" que não deixa de ter a sua piada.
Porque, no fundo, amigas e amigos, mesmo com isto tudo, com estas crises, com estas guerras, tanto eu como vocês, que me estão a ler, pertencemos à minoria dos privilegiados, à ínfima cota dos bafejados pela sorte, daqueles que ainda podem afirmar que isto é mais bom que mau, que trás mais gozo que desgosto, e que os nossos problemas, para nós imensos, são um nada comparados com os problemas de 90% da população mundial que são a fome, a miséria, a exclusão e uma crónica incapacidade e possibilidade de sair dessa situação.
Por isso vivamos, que isto continua a ser demasiado bom para ser desperdiçado.
Até para o Ano!
No Youtube em; https://youtu.be/Dvi-7cceAcc